23/01/2017

Processo de Individuação- C.G. Jung




A Clínica Psicológica Ana Maria Poppovic conceitua o processo de individuação e o apresenta no processo psicoterapêutico de duas pessoas: uma criança de doze anos e uma senhora na faixa dos quarenta. O enfoque de análise recai sobre a vivência do arquétipo paterno da criança e a constituição da dinâmica persona-sombra, a questão da persona defensiva. 

Os casos traduzem bem conceitos que o arteterapeuta pode tomar emprestado para sua prática terapêutica dentro dos seus limites de atuação ou para aqueles que se interessam pela teoria junguiana.

Visite a página.

http://www.pucsp.br/clinica/clinica.html

21/01/2017

Eu-tu e Eu-isso (baseado em Martin Buber)



Eu-Tu e Eu-Isso, como expressões de duas atitudes básicas do homem ser-no-mundo, são igualmente necessárias e complementares, no sentido que uma requer a outra. 

A atitude Eu-isso implica atender as tarefas do dia-a-dia, trabalhar, construir, possuir e acumular coisas, receber informações, etc., por outro, a falta inata das experiências por meio das quais nos realizamos como seres humanos caracterizam a atitude Eu-Tu. Essa necessidade de plenitude humana não é de natureza material. É fruto de um psiquismo, entendido como espírito, sinônimo de uma consciência transcendental. Explicando ainda que essa realização humana se alcança de forma processual: 

            “a vida consciente do homem é também um processo” (Buber, 1974, p. 26-27)

p.txt (464×302)A relação 'eu-tu' é existencialmente dialógica, ou seja, deve ter uma postura em que a troca, o ouvir e o falar, o perguntar e o responder, o emocionar-se com, seja compartilhado. Isso não significa que um deva concordar com o outro, mas antes, que cada um inserido nessa relação possa trocar com o outro, acrescentando e sendo acrescentado ao mesmo tempo. Nessa relação, é pressuposto básico a exigência da disponibilidade mútua, pois só assim se estabelece o diálogo. A qualidade da relação "eu-tu" é responsabilidade de ambos. É na relação que se configura a qualidade do que é vivido com o outro.


"...E eu danço com a sua música, ou fujo,

E me encolho, ou sou atraído..."(Perls, 1969). 


Desta forma surge um novo fenômeno, o nós, que é diferente de eu e você. O nós não existe por si só, mas se constitui a partir do eu e você e é o campo de um intercâmbio onde duas pessoas de encontram. E quando nos encontramos lá, então eu mudo e você muda através do processo de um encontro mútuo... (Perls, 1975).


Mas o que acontece quando a relação entre duas pessoas se dá de forma conflituosa? Por que é tão difícil para algumas pessoas estabeleceram o encontro dialógico "eu-tu" ainda que o amor permeie esta relação?

Respondo esta questão com a seguinte pergunta: 

O que se quer fazer dessa relação e qual atitude você tem diante da confrontação?

Para que a confrontação entre o homem e seu mundo, o homem e outro homem, o homem e a natureza resulte num encontro existencial é necessário a atitude. 


Atitude para Martin Buber, filósofo,  "é a posição fundamental,  a maneira mais básica de colocar-se face ao mundo"...(GILES, 1989).  Conforme a relação se estabelece, a cada momento, com coisas ou pessoas, manifestam-se dois pólos da humanidade de cada um; qualquer um dos dois pólos pode ser positivo em termos de acréscimo existencial,  ou não,  dependendo o uso que se fizer dessa relação (Kiyan, 2009).

Buber parte do pressuposto de que: “a mente jamais adoece sozinha” senão que sempre está subjacente a um problema de relacionamento: “de entreidade” (betweenness), uma situação [de falta de uma relação dialógica] entre ela e outro ser existente”






07/12/2015

Arteterapia é muito mais do que fazer pinturas legais


Qualquer pessoa que tenha usado uma caneta para rabiscar um papel, lápis de cera para colorir um livro ou as mãos em argila molhada conhece os poderes curativos embutidos em tais esforços criativos.
Mais do que um passatempo, a arte pode ser uma fuga, um estímulo, um grito de guerra ou uma tranquila pausa.
A arteterapia, definida como “uma forma de psicoterapia que utiliza os meios artísticos como seu principal modo de comunicação”, gira em torno desse princípio do imenso poder da arte.
Aberto às crianças e adultos de qualquer formação e experiência, esse campo, ainda em desenvolvimento, explora modos de expressão, entendimento e cura que ocorrem quando a tinta toca a tela.
Embora muitas escolas hoje funcionem sob a premissa que de a arte é irrelevante, um desvio das disciplinas acadêmicas tradicionais, os arteterapeutas sabem o que estão dizendo. Eles sabem que a arte tem o potencial de mudar vidas e até mesmo de salvá-las.
Tally Tripp é diretora clínica de arteterapia da Universidade George Washington, especializada em indivíduos que passaram por traumas. Tendo começado nesse campo desde seu surgimento, nos anos 70, Tripp foi fundamental em desenvolver essas atividades da forma como conhecemos hoje.
Dando seguimento à cobertura do The Huffington Post sobre o frequentemente incompreendido campo da arteterapia e sobre os pioneiros que continuam a esculpi-lo, conversamos com Tripp sobre o momento atual e o passado de sua carreira.
arte terapia
Como você se interessou por arteterapia? Como tomou conhecimento sobre esse campo?
A primeira vez que ouvi falar de arteterapia foi definitivamente quando esse campo estava em sua infância. Pessoalmente, sempre adorei criar arte e combinar isso com um interesse em trabalhar com as pessoas.
No colégio, passava as temporadas de verão em Nova York trabalhando para a Children’s Aid Society com crianças pobres em um programa de camping.
Foi lá, como orientadora do programa de arte e artesanato, que vi uma das revistas originais sobre arteterapia: a Bulletin of Art Therapy (editada por Elinor Ulman e produzida entre 1961-1970).
Por muitos anos, aquela revista era a única publicação sobre arteterapia disponível. Na mesma época, em 1971, Elinor Ulman e seu colega, o psicólogo Bernard Levy, começaram um programa de arteterapia na Universidade George Washington.
Em pouco tempo meu objetivo era estudar arteterapia na GW [George Washington], o que consegui entre 1978 e 1981. Agora, depois de muitas voltas, sou professora titular do programa de arteterapia na GW e diretora da Clínica de Arteterapia da GW.
Como era a arteterapia quando você mergulhou pela primeira vez nesse campo?
No final dos anos 70, a arteterapia ainda era uma profissão nova.
Foi definitivamente um período emocionante para o campo, já que nós estudantes tínhamos classes com os pioneiros: Elinor Ulman, Edith Kramer e Hanna Kwiatkowska – pensadores inovadores desenvolvendo abordagens clínicas que eram baseadas principalmente em intuição, combinadas com um pensamento psicoanalítico popular na época.
Também, naquela época, havia poucos textos ou pesquisas sobre arteterapia que nos guiassem, por isso aprendemos basicamente com nossas experiências e trabalho clínico.
Como a arteterapia era uma profissão relativamente desconhecida, todos dedicamos tempo e esforços para divulgar e educar os outros sobre seu valor.
O campo está mais estabelecido agora e mais pessoas já ouviram falar sobre arteterapia e entendem um pouco como funciona.
Os arteterapeutas agora possuem licenças em alguns estados, bem como níveis de credenciamento profissional e certificação.
Além disso, temos uma ampla literatura sobre arteterapia à nossa mão, incluindo estudos sustentando a eficácia da arteterapia e descrevendo como ela é usada em muitos contextos e populações.
Os arteterapeutas agora podem ser encontrados em vários contextos — em hospitais e centros psiquiátricos, escolas, unidades de geriatria, em comunidades e estúdios de arte, e em clínicas particulares.
Quais são suas áreas de interesse nesse campo?
Tenho feito atendimento particular em arteterapia há mais de 30 anos. Minha especialização é trabalhar com indivíduos que passaram por traumas.
Acredito que esses clientes são excelentes candidatos para a arteterapia precisamente porque a arte pode fornecer meios para expressar os sentimentos inexprimíveis, que muitas vezes estão trancados ou afastados da consciência em resposta a eventos traumáticos.
Tem sido animador ver que, nos últimos 25 anos, a pesquisa neurocientífica tem validado o tipo de trabalho que fazemos.
Através das imagens do cérebro, agora sabemos que o funcionamento cognitivo e executivo está, em sua maior parte, “off-line” quando as pessoas estão se lembrando de seus traumas, tornando-os essencialmente “sem palavras”.
Isso ajuda a explicar por que a terapia verbal tradicional muitas vezes não é suficiente quando se lida com traumas, e por que a arte (imagens) e outras terapias experimentais são tão eficazes.
Existe um certo tipo de paciente que você acredita ser mais adequado à arteterapia em oposição a outros métodos terapêuticos?
Qualquer pessoa que está disposta a explorar sentimentos através do processo da arte pode se beneficiar da arteterapia. Algumas pessoas serão naturalmente atraídas para esse tipo de terapia — as crianças, em particular, onde sua linguagem natural é através da arte e da brincadeira.
Adolescentes também são bons candidatos para a arteterapia porque podem ser resistentes às terapias de conversa tradicionais e normalmente gostam de trabalhar com materiais artísticos.
Trabalho com adultos, no entanto, digo que ainda são crianças por dentro, já que muitas vezes é um adulto carregando aquela criança que chega ao meu consultório.
A arte ajuda a driblar a defesa e a intelectualização inerentes à linguagem verbal. Quando um novo paciente (adulto) é encaminhado para mim, começo perguntando: ‘Por que você acredita que a arteterapia vai ajudar?’.
Ali, estou formando uma aliança com o paciente, sugerindo que acredito que a natureza criativa e experimental da arte, na companhia atenta de um arteterapeuta, vai fazer a diferença.
O que torna a arteterapia tão poderosa?
Arteterapia é mais do que apenas fazer pinturas legais. Na verdade, arteterapia é muitas vezes um processo de fazer pinturas feias ou bagunçadas que retratam um sentimento, não um produto final todo bonitinho e arrumadinho.
A arteterapia tem a ver com aquele processo criativo onde o cliente, em companhia de um arteterapeuta, está trabalhando e retrabalhando problemas por meio de materiais artísticos fluidos e variados.
No atendimento particular, vejo que as peças de arte criadas espontaneamente são as mais significativas e, muitas vezes, ajudam a pessoa a encontrar uma resolução para experiências traumáticas específicas.
O benefício ocorre quando a arte realizada facilita uma sensação de domínio sobre o problema.
Por exemplo, um paciente que sofreu anos de abuso ou negligência na infância pode ser capaz de finalmente expressar sentimentos que haviam sido evitados ou empurrados para fora da percepção consciente, porque eram muito fortes na época.
As imagens frequentemente falam mais alto do que as palavras.
Com o incentivo do arteterapeuta, os difíceis sentimentos podem ser expressados através da arte.
O processo varia muito, por isso não há uma maneira de descrever o que acontece em uma sessão.
Quando uma pessoa olha pela primeira vez para um papel em branco, pode haver alguma resistência ou hesitação em explorar sentimentos, por isso as imagens resultantes podem aparecer apertadas e controladas como em um desenho ou esboço a lápis.
Mas, depois que certa confiança é estabelecida no relacionamento terapêutico, o processo artístico pode se mover em direção a uma atividade mais expressiva, que sugeriria que o paciente está acessando uma emoção mais forte.
Muitas vezes o paciente começará a usar materiais mais evocativos nesse ponto, por exemplo, usando tinta ou argila para expressar raiva, vergonha ou medo.
O arteterapeuta conhece os problemas psicológicos e o uso de vários meios de arte; o processo é flexível e individualmente focado em apoiar o paciente a encontrar materiais e técnicas que se conectem com os problemas em questão.
E à medida que um paciente se torna mais aberto ao processo e descobre mais recursos criativos dentro de si próprio, o produto artístico também mudará.
Em arteterapia, sempre existe aquele limite criativo que mantém o processo dinâmico e contribui para o processo de cura.


Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost US e traduzido do inglês.

25/11/2015

Estamira: A loucura da dor




Ela caminha solitária pelo lixão,
Veste sua indumentária dia após dia;
No lixo encontra seu consolo e seu sustento.
No meio ao depósito de restos e descuidos,
Acredita que proteger é limpar, limpar sua dor.

Em seu delírio ela é a visão de cada um.
Foi estuprada, violentada e abusada por homens que nenhum
cientista seria capaz de dimensionar sua dor...
"Vai além do além".
"O além do além é o irrecuperável".
A dor?  Vai além do além, a dor de deixar sua mãe;
A dor de ser estuprada;
A dor de ser traída em sua própria casa;
A dor de ser rejeitada e despejada com seus filhos pelo homem que amava;
Sim, a dor é irrecuperável como o além do além.
Quantas de nós, não sentimos um pouco da dor de Estamira?

Em seu discurso místico, o "trocadilho", o 'Deus sujo" a separou do seu Eu;
"Ele"? Queria que aceitasse o assaltante, o estuprador.
Aceitar isto é romper com seu Eu.
Estamira é o nome da sua verdade;
Estamira é a sua integridade, sua moral;
'Eu sou Estamira"!

Não aceitando a dor, rompe com seu ego e se encontra no lixão.
Na podridão do homem para queimar a sua dor.
"O fogo é a solução".
Ela não quer mudar, nasceu e não admite essas ocorrências.
Não gosta de erros, de suspeitas, humilhação.
O fogo queima o inimaginável em seu delírio.
A dor de Estamira é inimaginável. Mas,
em sua sabedoria delirante ...
"Tudo que é imaginável existe, tem e é".
"Eu sou Estamira!" E você?

Débora Catarina Pfeilsticker
(26/09/15)







Assista Estamira: Filme de Marcos Prado




19/11/2015

Caixa de Areia (Sand Play)




A técnica de caixa de areia (sand play) foi criada por Kalff, analista de Zurique, Suiça, contemporânea e seguidora de C.G. Jung. O trabalho tem como ideia mobilizar símbolos do inconsciente que possam trazer uma resposta à situação consciente, de maneira mais segura que a Imaginação Ativa que só deve ser aplicada em pacientes nos quais estejamos convictos da existência de uma estrutura forte de ego, evitando o risco de uma dissociação psicótica.

Utiliza-se uma caixa de medidas específicas (72 x 57 x 7cm), cheia até a metade com areia, e uma estante com miniaturas, as mais variadas categorias (carros, bonecos, aviões, utensílios, conchas etc) O tamanho da caixa tem a intenção de limitar a imaginação do paciente, agindo como fator de proteção.

Jung sempre valorizou muito os símbolos do inconsciente que apareciam em sonhos. Ele procurou criar técnicas que, além do sonhos, pudessem mobilizar o aparecimento de símbolos na consciência. Então, utilizou no seu consultório a técnica do desenho livre e da Imaginação Ativa.

No âmbito da Arteterapia, a história do paciente aliada à técnica da Caixa de Areia, com disposição das miniaturas na caixa, permite uma compreensão melhor a situação psíquica do sujeito. Segundo Paula Boechat (2011) o conhecimento sobre mitologia pode ser também um aliado para perceber figuras arquetípicas na concretização dos símbolos. As associações do paciente às cenas na Caixa de Areia contribuem para a reelaboração de questões e conflitos pessoais no seu próprio Processo de Individuação.




10/11/2015

Símbolos e significados

"Eu sei quem eu sou e quem posso ser, se eu desejar". 
Miguel de Cervantes Saavedra


Pimenta Dedo de Moça

Não sou objeto, mas um símbolo.
Um símbolo daquilo que represento para ti.
Tu me qualificastes e com isto expôs algo de ti mesmo.
Nada sabem de ti.
Palavras soltas, são muito e pouco ao mesmo tempo...
Mas, eu te conheço.
Sei de suas histórias e de seus medos.
Deixem que pensem de ti o que quiserem!
Conheço tua essência.
Passastes por um processo de crescimento e de libertação.
Agora te digo: sejas livre para viver seu amor, sua sensualidade.
Saibas que tua feminilidade te dá brilho - como a pimenta no prato mais elaborado.
Perdestes tempo?
Ficastes presa à um emaranhado de arquétipos...
Não importa.
És livre agora!
Tua força e ousadia te fizeram independente.
Só te resta ser feliz!

Débora Catarina Pfeilsticker 
(12/05/2015)




03/11/2015

Processo de Individuação e Alquimia



A metáfora alquímica descrita por meio da "Montanha dos Adeptos", assim como os sonhos, fantasias, símbolos e imaginações são grandes instrumentos para ampliar a consciência (MAGALDI FILHO, 2011).


Jung pensava que a alquimia, verificada à luz do simbólico e não do cientifico, poderia ser considerada como um dos precursores do moderno estudo do INCONSCIENTE e, em particular, do interesse analítico na TRANSFORMAÇÃO da personalidade. Jung entendeu que o processo alquímico devia ser abordado de um ponto de vista simbólico, mais que tomada como uma pseudociência até agora desacreditada.

A fórmula alquímica denominada V.I.T.R.I.O.L (palavra advinda do latim) sintetiza a doutrina alquimista: "Visita Interiorem Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem " e quer dizer: "Visite o seu interior para encontrar sua pedra oculta" indica que podemos deixar de ser pedras brutas. Porque, devido a contínua lapidação do autoconhecimento e do domínio da máquina, vamos ficando mais cristalinos até atingirmos o diamante original - que é a nossa essência! (MAGALDI FILHO, 2011, grifo meu).

autoconhecimento é o caminho para promover as necessárias quebras de padrões comportamentais que dificultam o processo de individuação  conforme Jung define.

Com base na proposta de Rosângela Correa (2015), psicoterapeuta Junguiana,  a metáfora alquímica é aqui apresentada para melhor entendimento de como podemos conduzir as etapas no processo de individuação, junto ao cliente/sujeito, a partir da dinâmica observada na gravura da montanha dos adeptos: 

Primeira fase: A Calcinação: 

A calcinação é um tratamento térmico capaz de promover transformações fisioquímicas como a eliminação de substâncias voláteis neles contidas tais como água. Então, quando o cliente chega ao consultório, ele chega calcinando, mas calcinando pela água, que representa as emoções agindo de forma destrutiva, cristalizando os complexos. Sendo assim, o trabalho do terapeuta, nesta fase, é colocar o “fogo”, mas um “fogo” planejado, ou seja, utilizar o “fogo” do cliente , para combater o próprio “fogo”. Utilizando a queixa ou sintoma, produto da "calcinação", para a transformação.




Segunda fase: Sublimação

Consiste em converter um corpo de estado sólido para estado gasoso. Para Jung, a sublimação corresponde a ação de colocar ar, ou seja, pensamento, ampliação de consciência, em cima da cal ou do pó que possibilita manuseio, pois ainda não tem forma, visto que o complexo que foi calcinado e agora tornou-se pó, permite e gera condições para o indivíduo lidar com a sombra, com os infernos internos. E neste momento, o terapeuta junto ao cliente começa a planejar ou imaginar como ele, cliente, quer lidar com a vida, averiguando e identificando suas reais expectativas, referente à situação em que esteja inserido, e o que, de fato, espera de sua própria existência, de maneira ampla e global. E depois desta sincera avaliação, de âmbito absolutamente pessoal, passam a verificar as disposições de merecimento, também, pessoal, mediante as expectativas planejadas e esperadas. Sendo que, p. ex., é improvável que uma pessoa adquira fluência em idioma estrangeiro, sem empenhar esforço e recursos pessoais para o aprendizado do mesmo.

Terceira fase: Solução/Solver

Nesta fase o líquido homogêneo resultante da dissolução, pode ser reutilizado. Portanto, podemos colocar o sentimento novamente, mas agora de forma consciente, lógica, inteligente. Em outras palavras, ao passarmos pelas etapas de calcinação e sublimação, fazemos com que o indivíduo tenha percepções intuitivas para poder tirar a exuberância da carga emocional dos complexos, e através da etapa solução, o indivíduo possa solver, aproximando o sentimento sem correr o risco de despertar o complexo novamente, dando nova forma a antigos conteúdos. E neste momento, também criamos condições para o indivíduo galgar outra dimensão, em que podemos chamar de rubedo.

Quarta fase: Putrefação/Fermentação

Consiste no processo de decomposição. Sendo assim, agora a presença da água/sentimento, diante daquele conteúdo, não calcina mais pelo fogo devastador, mas, ainda assim, provoca o equivalente a uma calcinação, só que nesta etapa, de forma branda, pois consiste na putrefação ou fermentação. Isto corresponde às necessárias mortes simbólicas, para a possibilidade de renovação, de criação, visto que, precisamos fazer substituições de conteúdos destrutivos por conteúdos construtivos. Nesta etapa acontecem as transformações, tendo em vista que, a base da alquimia é a troca, e se perdemos ou negligenciarmos a troca, também perderemos a oportunidade de transformação. Temos que estar atentos e dispostos para promovermos as necessárias quebras dos padrões de cristalização, para assim, rearranjarmos a própria economia psíquica.

Quinta fase: Separação/Destilação

Consiste em isolar através da evaporização e a imediata condensação dos componentes voláteis, da mistura líquida, obtendo-se a água destilada livre de impurezas. Este é o momento onde conscientemente, o indivíduo vai fazer escolhas diante das possibilidades que surgiram em função das mortes simbólicas. São as rupturas, é o renascer literal, e isto tem que ser conscientemente, levando em conta que cada escolha implica em uma desistência, cada decisão, implica em uma cisão, ou seja, uma separação.

Sexta fase: Coagulação

Refere-se ao resultado da solidificação. A partir do momento que o indivíduo separou ou destilou, ele passa para a etapa de coagulação. Isto significa concretizar as atitudes tomadas. Então, ao passarmos por todas as etapas anteriores, de calcinar, sublimar, solver, putrefar, separar, estamos finalmente em condições de coagular, portanto, a partir deste momento obtemos a ilusão de encontrar o equilíbrio, a tintura maior, que é a sétima etapa. Sobre o termo ilusão, apenas para esclarecer, temos que ter em mente que terminamos este processo, mas que outros virão e este suposto equilíbrio será novamente abalado, mas isto faz parte da dinâmica do processo de individuação.

Sétima fase: Tintura/União

Consiste na ação de tingir a obra nas cores clássicas da alquimia, concluindo o processo alquímico. Sendo que assim, o indivíduo, agora, está tingido, e desta maneira encontra-se repleto de sentimento, emoção, pensamento, ação, todos alinhados, preparando-nos para um novo processo alquímico, que certamente será disparado por uma nova crise, e como mencionado no item anterior, dando continuidade ao processo de individuação. Na tintura, nos aproximamos da percepção da essência, sentido e significado existencial.