03/11/2015

Processo de Individuação e Alquimia



A metáfora alquímica descrita por meio da "Montanha dos Adeptos", assim como os sonhos, fantasias, símbolos e imaginações são grandes instrumentos para ampliar a consciência (MAGALDI FILHO, 2011).


Jung pensava que a alquimia, verificada à luz do simbólico e não do cientifico, poderia ser considerada como um dos precursores do moderno estudo do INCONSCIENTE e, em particular, do interesse analítico na TRANSFORMAÇÃO da personalidade. Jung entendeu que o processo alquímico devia ser abordado de um ponto de vista simbólico, mais que tomada como uma pseudociência até agora desacreditada.

A fórmula alquímica denominada V.I.T.R.I.O.L (palavra advinda do latim) sintetiza a doutrina alquimista: "Visita Interiorem Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem " e quer dizer: "Visite o seu interior para encontrar sua pedra oculta" indica que podemos deixar de ser pedras brutas. Porque, devido a contínua lapidação do autoconhecimento e do domínio da máquina, vamos ficando mais cristalinos até atingirmos o diamante original - que é a nossa essência! (MAGALDI FILHO, 2011, grifo meu).

autoconhecimento é o caminho para promover as necessárias quebras de padrões comportamentais que dificultam o processo de individuação  conforme Jung define.

Com base na proposta de Rosângela Correa (2015), psicoterapeuta Junguiana,  a metáfora alquímica é aqui apresentada para melhor entendimento de como podemos conduzir as etapas no processo de individuação, junto ao cliente/sujeito, a partir da dinâmica observada na gravura da montanha dos adeptos: 

Primeira fase: A Calcinação: 

A calcinação é um tratamento térmico capaz de promover transformações fisioquímicas como a eliminação de substâncias voláteis neles contidas tais como água. Então, quando o cliente chega ao consultório, ele chega calcinando, mas calcinando pela água, que representa as emoções agindo de forma destrutiva, cristalizando os complexos. Sendo assim, o trabalho do terapeuta, nesta fase, é colocar o “fogo”, mas um “fogo” planejado, ou seja, utilizar o “fogo” do cliente , para combater o próprio “fogo”. Utilizando a queixa ou sintoma, produto da "calcinação", para a transformação.




Segunda fase: Sublimação

Consiste em converter um corpo de estado sólido para estado gasoso. Para Jung, a sublimação corresponde a ação de colocar ar, ou seja, pensamento, ampliação de consciência, em cima da cal ou do pó que possibilita manuseio, pois ainda não tem forma, visto que o complexo que foi calcinado e agora tornou-se pó, permite e gera condições para o indivíduo lidar com a sombra, com os infernos internos. E neste momento, o terapeuta junto ao cliente começa a planejar ou imaginar como ele, cliente, quer lidar com a vida, averiguando e identificando suas reais expectativas, referente à situação em que esteja inserido, e o que, de fato, espera de sua própria existência, de maneira ampla e global. E depois desta sincera avaliação, de âmbito absolutamente pessoal, passam a verificar as disposições de merecimento, também, pessoal, mediante as expectativas planejadas e esperadas. Sendo que, p. ex., é improvável que uma pessoa adquira fluência em idioma estrangeiro, sem empenhar esforço e recursos pessoais para o aprendizado do mesmo.

Terceira fase: Solução/Solver

Nesta fase o líquido homogêneo resultante da dissolução, pode ser reutilizado. Portanto, podemos colocar o sentimento novamente, mas agora de forma consciente, lógica, inteligente. Em outras palavras, ao passarmos pelas etapas de calcinação e sublimação, fazemos com que o indivíduo tenha percepções intuitivas para poder tirar a exuberância da carga emocional dos complexos, e através da etapa solução, o indivíduo possa solver, aproximando o sentimento sem correr o risco de despertar o complexo novamente, dando nova forma a antigos conteúdos. E neste momento, também criamos condições para o indivíduo galgar outra dimensão, em que podemos chamar de rubedo.

Quarta fase: Putrefação/Fermentação

Consiste no processo de decomposição. Sendo assim, agora a presença da água/sentimento, diante daquele conteúdo, não calcina mais pelo fogo devastador, mas, ainda assim, provoca o equivalente a uma calcinação, só que nesta etapa, de forma branda, pois consiste na putrefação ou fermentação. Isto corresponde às necessárias mortes simbólicas, para a possibilidade de renovação, de criação, visto que, precisamos fazer substituições de conteúdos destrutivos por conteúdos construtivos. Nesta etapa acontecem as transformações, tendo em vista que, a base da alquimia é a troca, e se perdemos ou negligenciarmos a troca, também perderemos a oportunidade de transformação. Temos que estar atentos e dispostos para promovermos as necessárias quebras dos padrões de cristalização, para assim, rearranjarmos a própria economia psíquica.

Quinta fase: Separação/Destilação

Consiste em isolar através da evaporização e a imediata condensação dos componentes voláteis, da mistura líquida, obtendo-se a água destilada livre de impurezas. Este é o momento onde conscientemente, o indivíduo vai fazer escolhas diante das possibilidades que surgiram em função das mortes simbólicas. São as rupturas, é o renascer literal, e isto tem que ser conscientemente, levando em conta que cada escolha implica em uma desistência, cada decisão, implica em uma cisão, ou seja, uma separação.

Sexta fase: Coagulação

Refere-se ao resultado da solidificação. A partir do momento que o indivíduo separou ou destilou, ele passa para a etapa de coagulação. Isto significa concretizar as atitudes tomadas. Então, ao passarmos por todas as etapas anteriores, de calcinar, sublimar, solver, putrefar, separar, estamos finalmente em condições de coagular, portanto, a partir deste momento obtemos a ilusão de encontrar o equilíbrio, a tintura maior, que é a sétima etapa. Sobre o termo ilusão, apenas para esclarecer, temos que ter em mente que terminamos este processo, mas que outros virão e este suposto equilíbrio será novamente abalado, mas isto faz parte da dinâmica do processo de individuação.

Sétima fase: Tintura/União

Consiste na ação de tingir a obra nas cores clássicas da alquimia, concluindo o processo alquímico. Sendo que assim, o indivíduo, agora, está tingido, e desta maneira encontra-se repleto de sentimento, emoção, pensamento, ação, todos alinhados, preparando-nos para um novo processo alquímico, que certamente será disparado por uma nova crise, e como mencionado no item anterior, dando continuidade ao processo de individuação. Na tintura, nos aproximamos da percepção da essência, sentido e significado existencial.

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