07/12/2015

Arteterapia é muito mais do que fazer pinturas legais


Qualquer pessoa que tenha usado uma caneta para rabiscar um papel, lápis de cera para colorir um livro ou as mãos em argila molhada conhece os poderes curativos embutidos em tais esforços criativos.
Mais do que um passatempo, a arte pode ser uma fuga, um estímulo, um grito de guerra ou uma tranquila pausa.
A arteterapia, definida como “uma forma de psicoterapia que utiliza os meios artísticos como seu principal modo de comunicação”, gira em torno desse princípio do imenso poder da arte.
Aberto às crianças e adultos de qualquer formação e experiência, esse campo, ainda em desenvolvimento, explora modos de expressão, entendimento e cura que ocorrem quando a tinta toca a tela.
Embora muitas escolas hoje funcionem sob a premissa que de a arte é irrelevante, um desvio das disciplinas acadêmicas tradicionais, os arteterapeutas sabem o que estão dizendo. Eles sabem que a arte tem o potencial de mudar vidas e até mesmo de salvá-las.
Tally Tripp é diretora clínica de arteterapia da Universidade George Washington, especializada em indivíduos que passaram por traumas. Tendo começado nesse campo desde seu surgimento, nos anos 70, Tripp foi fundamental em desenvolver essas atividades da forma como conhecemos hoje.
Dando seguimento à cobertura do The Huffington Post sobre o frequentemente incompreendido campo da arteterapia e sobre os pioneiros que continuam a esculpi-lo, conversamos com Tripp sobre o momento atual e o passado de sua carreira.
arte terapia
Como você se interessou por arteterapia? Como tomou conhecimento sobre esse campo?
A primeira vez que ouvi falar de arteterapia foi definitivamente quando esse campo estava em sua infância. Pessoalmente, sempre adorei criar arte e combinar isso com um interesse em trabalhar com as pessoas.
No colégio, passava as temporadas de verão em Nova York trabalhando para a Children’s Aid Society com crianças pobres em um programa de camping.
Foi lá, como orientadora do programa de arte e artesanato, que vi uma das revistas originais sobre arteterapia: a Bulletin of Art Therapy (editada por Elinor Ulman e produzida entre 1961-1970).
Por muitos anos, aquela revista era a única publicação sobre arteterapia disponível. Na mesma época, em 1971, Elinor Ulman e seu colega, o psicólogo Bernard Levy, começaram um programa de arteterapia na Universidade George Washington.
Em pouco tempo meu objetivo era estudar arteterapia na GW [George Washington], o que consegui entre 1978 e 1981. Agora, depois de muitas voltas, sou professora titular do programa de arteterapia na GW e diretora da Clínica de Arteterapia da GW.
Como era a arteterapia quando você mergulhou pela primeira vez nesse campo?
No final dos anos 70, a arteterapia ainda era uma profissão nova.
Foi definitivamente um período emocionante para o campo, já que nós estudantes tínhamos classes com os pioneiros: Elinor Ulman, Edith Kramer e Hanna Kwiatkowska – pensadores inovadores desenvolvendo abordagens clínicas que eram baseadas principalmente em intuição, combinadas com um pensamento psicoanalítico popular na época.
Também, naquela época, havia poucos textos ou pesquisas sobre arteterapia que nos guiassem, por isso aprendemos basicamente com nossas experiências e trabalho clínico.
Como a arteterapia era uma profissão relativamente desconhecida, todos dedicamos tempo e esforços para divulgar e educar os outros sobre seu valor.
O campo está mais estabelecido agora e mais pessoas já ouviram falar sobre arteterapia e entendem um pouco como funciona.
Os arteterapeutas agora possuem licenças em alguns estados, bem como níveis de credenciamento profissional e certificação.
Além disso, temos uma ampla literatura sobre arteterapia à nossa mão, incluindo estudos sustentando a eficácia da arteterapia e descrevendo como ela é usada em muitos contextos e populações.
Os arteterapeutas agora podem ser encontrados em vários contextos — em hospitais e centros psiquiátricos, escolas, unidades de geriatria, em comunidades e estúdios de arte, e em clínicas particulares.
Quais são suas áreas de interesse nesse campo?
Tenho feito atendimento particular em arteterapia há mais de 30 anos. Minha especialização é trabalhar com indivíduos que passaram por traumas.
Acredito que esses clientes são excelentes candidatos para a arteterapia precisamente porque a arte pode fornecer meios para expressar os sentimentos inexprimíveis, que muitas vezes estão trancados ou afastados da consciência em resposta a eventos traumáticos.
Tem sido animador ver que, nos últimos 25 anos, a pesquisa neurocientífica tem validado o tipo de trabalho que fazemos.
Através das imagens do cérebro, agora sabemos que o funcionamento cognitivo e executivo está, em sua maior parte, “off-line” quando as pessoas estão se lembrando de seus traumas, tornando-os essencialmente “sem palavras”.
Isso ajuda a explicar por que a terapia verbal tradicional muitas vezes não é suficiente quando se lida com traumas, e por que a arte (imagens) e outras terapias experimentais são tão eficazes.
Existe um certo tipo de paciente que você acredita ser mais adequado à arteterapia em oposição a outros métodos terapêuticos?
Qualquer pessoa que está disposta a explorar sentimentos através do processo da arte pode se beneficiar da arteterapia. Algumas pessoas serão naturalmente atraídas para esse tipo de terapia — as crianças, em particular, onde sua linguagem natural é através da arte e da brincadeira.
Adolescentes também são bons candidatos para a arteterapia porque podem ser resistentes às terapias de conversa tradicionais e normalmente gostam de trabalhar com materiais artísticos.
Trabalho com adultos, no entanto, digo que ainda são crianças por dentro, já que muitas vezes é um adulto carregando aquela criança que chega ao meu consultório.
A arte ajuda a driblar a defesa e a intelectualização inerentes à linguagem verbal. Quando um novo paciente (adulto) é encaminhado para mim, começo perguntando: ‘Por que você acredita que a arteterapia vai ajudar?’.
Ali, estou formando uma aliança com o paciente, sugerindo que acredito que a natureza criativa e experimental da arte, na companhia atenta de um arteterapeuta, vai fazer a diferença.
O que torna a arteterapia tão poderosa?
Arteterapia é mais do que apenas fazer pinturas legais. Na verdade, arteterapia é muitas vezes um processo de fazer pinturas feias ou bagunçadas que retratam um sentimento, não um produto final todo bonitinho e arrumadinho.
A arteterapia tem a ver com aquele processo criativo onde o cliente, em companhia de um arteterapeuta, está trabalhando e retrabalhando problemas por meio de materiais artísticos fluidos e variados.
No atendimento particular, vejo que as peças de arte criadas espontaneamente são as mais significativas e, muitas vezes, ajudam a pessoa a encontrar uma resolução para experiências traumáticas específicas.
O benefício ocorre quando a arte realizada facilita uma sensação de domínio sobre o problema.
Por exemplo, um paciente que sofreu anos de abuso ou negligência na infância pode ser capaz de finalmente expressar sentimentos que haviam sido evitados ou empurrados para fora da percepção consciente, porque eram muito fortes na época.
As imagens frequentemente falam mais alto do que as palavras.
Com o incentivo do arteterapeuta, os difíceis sentimentos podem ser expressados através da arte.
O processo varia muito, por isso não há uma maneira de descrever o que acontece em uma sessão.
Quando uma pessoa olha pela primeira vez para um papel em branco, pode haver alguma resistência ou hesitação em explorar sentimentos, por isso as imagens resultantes podem aparecer apertadas e controladas como em um desenho ou esboço a lápis.
Mas, depois que certa confiança é estabelecida no relacionamento terapêutico, o processo artístico pode se mover em direção a uma atividade mais expressiva, que sugeriria que o paciente está acessando uma emoção mais forte.
Muitas vezes o paciente começará a usar materiais mais evocativos nesse ponto, por exemplo, usando tinta ou argila para expressar raiva, vergonha ou medo.
O arteterapeuta conhece os problemas psicológicos e o uso de vários meios de arte; o processo é flexível e individualmente focado em apoiar o paciente a encontrar materiais e técnicas que se conectem com os problemas em questão.
E à medida que um paciente se torna mais aberto ao processo e descobre mais recursos criativos dentro de si próprio, o produto artístico também mudará.
Em arteterapia, sempre existe aquele limite criativo que mantém o processo dinâmico e contribui para o processo de cura.


Este artigo foi originalmente publicado pelo HuffPost US e traduzido do inglês.

25/11/2015

Estamira: A loucura da dor




Ela caminha solitária pelo lixão,
Veste sua indumentária dia após dia;
No lixo encontra seu consolo e seu sustento.
No meio ao depósito de restos e descuidos,
Acredita que proteger é limpar, limpar sua dor.

Em seu delírio ela é a visão de cada um.
Foi estuprada, violentada e abusada por homens que nenhum
cientista seria capaz de dimensionar sua dor...
"Vai além do além".
"O além do além é o irrecuperável".
A dor?  Vai além do além, a dor de deixar sua mãe;
A dor de ser estuprada;
A dor de ser traída em sua própria casa;
A dor de ser rejeitada e despejada com seus filhos pelo homem que amava;
Sim, a dor é irrecuperável como o além do além.
Quantas de nós, não sentimos um pouco da dor de Estamira?

Em seu discurso místico, o "trocadilho", o 'Deus sujo" a separou do seu Eu;
"Ele"? Queria que aceitasse o assaltante, o estuprador.
Aceitar isto é romper com seu Eu.
Estamira é o nome da sua verdade;
Estamira é a sua integridade, sua moral;
'Eu sou Estamira"!

Não aceitando a dor, rompe com seu ego e se encontra no lixão.
Na podridão do homem para queimar a sua dor.
"O fogo é a solução".
Ela não quer mudar, nasceu e não admite essas ocorrências.
Não gosta de erros, de suspeitas, humilhação.
O fogo queima o inimaginável em seu delírio.
A dor de Estamira é inimaginável. Mas,
em sua sabedoria delirante ...
"Tudo que é imaginável existe, tem e é".
"Eu sou Estamira!" E você?

Débora Catarina Pfeilsticker
(26/09/15)







Assista Estamira: Filme de Marcos Prado




19/11/2015

Caixa de Areia (Sand Play)




A técnica de caixa de areia (sand play) foi criada por Kalff, analista de Zurique, Suiça, contemporânea e seguidora de C.G. Jung. O trabalho tem como ideia mobilizar símbolos do inconsciente que possam trazer uma resposta à situação consciente, de maneira mais segura que a Imaginação Ativa que só deve ser aplicada em pacientes nos quais estejamos convictos da existência de uma estrutura forte de ego, evitando o risco de uma dissociação psicótica.

Utiliza-se uma caixa de medidas específicas (72 x 57 x 7cm), cheia até a metade com areia, e uma estante com miniaturas, as mais variadas categorias (carros, bonecos, aviões, utensílios, conchas etc) O tamanho da caixa tem a intenção de limitar a imaginação do paciente, agindo como fator de proteção.

Jung sempre valorizou muito os símbolos do inconsciente que apareciam em sonhos. Ele procurou criar técnicas que, além do sonhos, pudessem mobilizar o aparecimento de símbolos na consciência. Então, utilizou no seu consultório a técnica do desenho livre e da Imaginação Ativa.

No âmbito da Arteterapia, a história do paciente aliada à técnica da Caixa de Areia, com disposição das miniaturas na caixa, permite uma compreensão melhor a situação psíquica do sujeito. Segundo Paula Boechat (2011) o conhecimento sobre mitologia pode ser também um aliado para perceber figuras arquetípicas na concretização dos símbolos. As associações do paciente às cenas na Caixa de Areia contribuem para a reelaboração de questões e conflitos pessoais no seu próprio Processo de Individuação.




10/11/2015

Símbolos e significados

"Eu sei quem eu sou e quem posso ser, se eu desejar". 
Miguel de Cervantes Saavedra


Pimenta Dedo de Moça

Não sou objeto, mas um símbolo.
Um símbolo daquilo que represento para ti.
Tu me qualificastes e com isto expôs algo de ti mesmo.
Nada sabem de ti.
Palavras soltas, são muito e pouco ao mesmo tempo...
Mas, eu te conheço.
Sei de suas histórias e de seus medos.
Deixem que pensem de ti o que quiserem!
Conheço tua essência.
Passastes por um processo de crescimento e de libertação.
Agora te digo: sejas livre para viver seu amor, sua sensualidade.
Saibas que tua feminilidade te dá brilho - como a pimenta no prato mais elaborado.
Perdestes tempo?
Ficastes presa à um emaranhado de arquétipos...
Não importa.
És livre agora!
Tua força e ousadia te fizeram independente.
Só te resta ser feliz!

Débora Catarina Pfeilsticker 
(12/05/2015)




03/11/2015

Processo de Individuação e Alquimia



A metáfora alquímica descrita por meio da "Montanha dos Adeptos", assim como os sonhos, fantasias, símbolos e imaginações são grandes instrumentos para ampliar a consciência (MAGALDI FILHO, 2011).


Jung pensava que a alquimia, verificada à luz do simbólico e não do cientifico, poderia ser considerada como um dos precursores do moderno estudo do INCONSCIENTE e, em particular, do interesse analítico na TRANSFORMAÇÃO da personalidade. Jung entendeu que o processo alquímico devia ser abordado de um ponto de vista simbólico, mais que tomada como uma pseudociência até agora desacreditada.

A fórmula alquímica denominada V.I.T.R.I.O.L (palavra advinda do latim) sintetiza a doutrina alquimista: "Visita Interiorem Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem " e quer dizer: "Visite o seu interior para encontrar sua pedra oculta" indica que podemos deixar de ser pedras brutas. Porque, devido a contínua lapidação do autoconhecimento e do domínio da máquina, vamos ficando mais cristalinos até atingirmos o diamante original - que é a nossa essência! (MAGALDI FILHO, 2011, grifo meu).

autoconhecimento é o caminho para promover as necessárias quebras de padrões comportamentais que dificultam o processo de individuação  conforme Jung define.

Com base na proposta de Rosângela Correa (2015), psicoterapeuta Junguiana,  a metáfora alquímica é aqui apresentada para melhor entendimento de como podemos conduzir as etapas no processo de individuação, junto ao cliente/sujeito, a partir da dinâmica observada na gravura da montanha dos adeptos: 

Primeira fase: A Calcinação: 

A calcinação é um tratamento térmico capaz de promover transformações fisioquímicas como a eliminação de substâncias voláteis neles contidas tais como água. Então, quando o cliente chega ao consultório, ele chega calcinando, mas calcinando pela água, que representa as emoções agindo de forma destrutiva, cristalizando os complexos. Sendo assim, o trabalho do terapeuta, nesta fase, é colocar o “fogo”, mas um “fogo” planejado, ou seja, utilizar o “fogo” do cliente , para combater o próprio “fogo”. Utilizando a queixa ou sintoma, produto da "calcinação", para a transformação.




Segunda fase: Sublimação

Consiste em converter um corpo de estado sólido para estado gasoso. Para Jung, a sublimação corresponde a ação de colocar ar, ou seja, pensamento, ampliação de consciência, em cima da cal ou do pó que possibilita manuseio, pois ainda não tem forma, visto que o complexo que foi calcinado e agora tornou-se pó, permite e gera condições para o indivíduo lidar com a sombra, com os infernos internos. E neste momento, o terapeuta junto ao cliente começa a planejar ou imaginar como ele, cliente, quer lidar com a vida, averiguando e identificando suas reais expectativas, referente à situação em que esteja inserido, e o que, de fato, espera de sua própria existência, de maneira ampla e global. E depois desta sincera avaliação, de âmbito absolutamente pessoal, passam a verificar as disposições de merecimento, também, pessoal, mediante as expectativas planejadas e esperadas. Sendo que, p. ex., é improvável que uma pessoa adquira fluência em idioma estrangeiro, sem empenhar esforço e recursos pessoais para o aprendizado do mesmo.

Terceira fase: Solução/Solver

Nesta fase o líquido homogêneo resultante da dissolução, pode ser reutilizado. Portanto, podemos colocar o sentimento novamente, mas agora de forma consciente, lógica, inteligente. Em outras palavras, ao passarmos pelas etapas de calcinação e sublimação, fazemos com que o indivíduo tenha percepções intuitivas para poder tirar a exuberância da carga emocional dos complexos, e através da etapa solução, o indivíduo possa solver, aproximando o sentimento sem correr o risco de despertar o complexo novamente, dando nova forma a antigos conteúdos. E neste momento, também criamos condições para o indivíduo galgar outra dimensão, em que podemos chamar de rubedo.

Quarta fase: Putrefação/Fermentação

Consiste no processo de decomposição. Sendo assim, agora a presença da água/sentimento, diante daquele conteúdo, não calcina mais pelo fogo devastador, mas, ainda assim, provoca o equivalente a uma calcinação, só que nesta etapa, de forma branda, pois consiste na putrefação ou fermentação. Isto corresponde às necessárias mortes simbólicas, para a possibilidade de renovação, de criação, visto que, precisamos fazer substituições de conteúdos destrutivos por conteúdos construtivos. Nesta etapa acontecem as transformações, tendo em vista que, a base da alquimia é a troca, e se perdemos ou negligenciarmos a troca, também perderemos a oportunidade de transformação. Temos que estar atentos e dispostos para promovermos as necessárias quebras dos padrões de cristalização, para assim, rearranjarmos a própria economia psíquica.

Quinta fase: Separação/Destilação

Consiste em isolar através da evaporização e a imediata condensação dos componentes voláteis, da mistura líquida, obtendo-se a água destilada livre de impurezas. Este é o momento onde conscientemente, o indivíduo vai fazer escolhas diante das possibilidades que surgiram em função das mortes simbólicas. São as rupturas, é o renascer literal, e isto tem que ser conscientemente, levando em conta que cada escolha implica em uma desistência, cada decisão, implica em uma cisão, ou seja, uma separação.

Sexta fase: Coagulação

Refere-se ao resultado da solidificação. A partir do momento que o indivíduo separou ou destilou, ele passa para a etapa de coagulação. Isto significa concretizar as atitudes tomadas. Então, ao passarmos por todas as etapas anteriores, de calcinar, sublimar, solver, putrefar, separar, estamos finalmente em condições de coagular, portanto, a partir deste momento obtemos a ilusão de encontrar o equilíbrio, a tintura maior, que é a sétima etapa. Sobre o termo ilusão, apenas para esclarecer, temos que ter em mente que terminamos este processo, mas que outros virão e este suposto equilíbrio será novamente abalado, mas isto faz parte da dinâmica do processo de individuação.

Sétima fase: Tintura/União

Consiste na ação de tingir a obra nas cores clássicas da alquimia, concluindo o processo alquímico. Sendo que assim, o indivíduo, agora, está tingido, e desta maneira encontra-se repleto de sentimento, emoção, pensamento, ação, todos alinhados, preparando-nos para um novo processo alquímico, que certamente será disparado por uma nova crise, e como mencionado no item anterior, dando continuidade ao processo de individuação. Na tintura, nos aproximamos da percepção da essência, sentido e significado existencial.

Montanha dos Adeptos

Compreender a simbologia da Montanha dos Adeptos facilita a compreensão da analogia feita com o Processo de Individuação de Jung. Vejo como algo quase que poético a transformação dos conflitos internos do ponto de vista simbólico tal como é traduzido pela Montanha dos Adeptos. Pensar que um longo processo de transformação dos conteúdos inconscientes reprimidos é algo tão complexo e ao mesmo tempo libertador é fascinante! É doloroso, posto que queima, arde e dissolve sua dor mais profunda. Daí, o autoconhecimento, o saber, a transformação. Assim, vejo a Montanha dos Adeptos independente de outras crenças, simplesmente, uma analogia poética da minha própria transformação: 

A Montanha dos Adeptos, nesta gravura de Stephen Michelspacher (ALCHIMIA, 1654), contém os quatro elementos, Fogo, Ar, Água, Terra e todas as fases de iniciação do adepto "vendado" (ignorante), até chegar ao Templo escavado na rocha representado pelos degraus: Calcinação / Sublimação / Dissolução / Putrefacção / Distilação / Coagulação / Tintura - um dos nomes do Elixir de Vida, ou de Sabedoria, ou da Pedra Filosofal.



A Fénix, ave da transformação maravilhosa das cinzas em nova vida, múltipla e colorida com as suas penas, coroa a cúpula do Templo ornado do Sol e da Lua (o macho e fêmea, que no seu interior serão unidos).



Não é por acaso que o adepto vendado, à direita, tem do lado esquerdo um companheiro (reflexo do que ele virá a ser) perseguindo dois coelhos que correm para a toca; os coelhos são aqui figurações da fecundidade e da mutiplicação ( são dois ), a benção que a iniciação e a Pedra concedem.

O que se multiplica é o Saber; o que se fecunda é o Espírito e a Alma, que no adepto tornado clarividente, já não estão separados, estão integrados no Corpo que se sublimou e se pode redescobrir na sua totalidade física e psíquica.

Ler uma gravura alquímica é como ler um tratado. A gravura contém todos os segredos, prontos a ser descobertos pela meditação repetida e cuidadosa. Muitas imagens remetem para outras, "conversam" entre si, por isso nos dizem que é preciso ler muito, estudar com aplicação, como em qualquer outra aprendizagem. 


Neste espaço,  a Montanha dos Adeptos é apresentada como analogia ao Processo de Individuação (C.G.Jung) do sujeito em busca de sua essência. 


(Fonte: Yvette Centeno, Simbologia e Alquimia)

02/11/2015

Resenha do Filme Estamira



Resenha do Filme Estamira 

Gostei muito da resenha de Dorenice do Nascimento Souza. Buscando respeitar a autoria do trabalho dela, indico seu blog para a leitura completa se tiver interesse. Veja abaixo:





"Estamira é a protagonista de um filme documentário brasileiro dirigido pelo cineasta Marcos Prado, que retrata a vida de uma senhora de 63 anos que após vivenciar muitos sofrimentos desenvolve distúrbios mentais, e passa a sofrer de Esquizofrenia um transtorno mental psicótico severo, uma patologia que altera a personalidade total do indivíduo."

Leia mais.

29/10/2015

Quem se beneficia com a Arteterapia?


Arteterapia é praticada em saúde mental, na reabilitação, na área médica, educacional, forense, para o bem-estar, clínica privada e ambientes comunitários com diversas populações de cliente, tais como casais, família, terapia de grupo e individual.


Arteterapia é um tratamento eficaz para pessoas que possuem comprometimento do desenvolvimento médico, educacional e social ou psicológico. Os indivíduos que se beneficiam da arteterapia incluem aqueles que sobreviveram ao trauma resultante do combate, abuso e desastres naturais; pessoas com condições de saúde física adversas, tais como câncer, lesão cerebral traumática, e outra incapacidade de saúde; e pessoas com autismo, demência, depressão e outros distúrbios. Arteterapia ajuda as pessoas a resolver conflitos, melhorar as habilidades interpessoais, gerenciar comportamentos problemáticos, reduzir o estresse negativo, e alcançar a auto-percepção. Arteterapia também oferece uma oportunidade para desfrutar os prazeres de fazer arte de afirmação da vida (American Art Therapy Association, 2015)


Arteterapia e a autonomia criativa


"A arteterapia não é mero entretenimento, mas, sim, uma forma de linguagem que permite à pessoa comunicar-se com os outros. Possibilita à criança não só a liberdade de expressão, mas sustenta sua autonomia criativa, amplia o seu conhecimento sobre o mundo e proporciona seu desenvolvimento emocional e social"(Valladares; Carvalho, 2006).


28/10/2015

Um Olhar para Dentro de Si - D.C. Pfeilsticker




"Arteterapia pode ser um espaço privilegiado para o sujeito olhar para si mesmo e para o outro a partir de 
flashes do insconciente na concretude da arte". 


Débora Catarina Pfeilsticker
03/10/2015

Art therapy and Cognitive Processing Therapy

Art therapy and CPT benefit PTSD, early results suggest

27/10/2015

"A Prática da Psicoterapia" - Obra de C.G. Jung

O livro "A Prática da Psicoterapia" (Jung, 1952) reúne textos do autor sobre a prática psicoterapêutica no sentido de trazer contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. 

No âmbito da Arteterapia, é sabido que os mediadores artísticos como recurso à imaginação, ao simbolismo e à metáforas enriquecem e incrementam o processo terapêutico. A triáde sujeito-objeto-terapeuta facilitam a comunicação, a objetivação das relações, a reorganização dos objetos internos, a expressão emocional significativa, o aprofundar do conhecimento interno (Sociedade Portuguesa de Arteterapia, 2015). Assim, considerando a interação entre o sujeito, o objeto de arte (produto) e o terapeuta, surge a seguinte questão: quais as contribuições desta obra de Jung para a prática do arteterapeuta?  

Nessa perspectiva, visando responder as inquietações do arteterapeuta em formação - permanente, 
fiz alguns recortes da obra de Jung que considerei relevantes para a prática da Arteterapia e para que o arteterapeuta reconheça,  no campo da terapêutica, seu núcleo de conhecimento, seus limites e suas perspectivas na área da saúde.






Jung acreditava que o psicoterapeuta seriamente empenhado em compreender o homem inteiro deveria entender o simbolismo da linguagem dos sonhos. E esta, como toda linguagem, também necessitará de conhecimentos históricos para sua interpretação. Assim, o conhecimento da 
linguagem simbólica dá condições ao terapeuta ajudar seu cliente a sair do egocentrismo 
em direção à horizontes mais amplos de sua evolução social, moral e espiritual.


Princípios básicos da prática da psicoterapia


A psicoterapia é um campo da terapêutica, que se desenvolveu e atingiu certa autonomia a partir do do século XX. Pouco a pouco foi se constatando que a psicoterapia se trata de um tipo de procedimento dialético. Entretanto, distanciou-se da concepção original passando a ser aplicada de forma estereotipada por qualquer pessoa, para obter um efeito desejado.  Isto se deve entre outros fatos, a necessidade de reconhecer que era possível interpretar os dados da experiência humana. Daí, muitas escolas desenvolveram diferentes métodos tais como: "terapia pela sugestão" de LIEBEAUT-BERNHEIM, a "persuasion" de BABINSKI, a "psicanalise" de FREUD, Cada um desses métodos e teorias tem razão de ser pelo êxito de seus respectivos pressupostos. As contradições, entretanto, põe em evidência as dificuldades que o objeto da investigação coloca à inteligencia do pesquisador. Isto porque a individualidade do sistema psíquico é infinitamente variável, e o resultado é uma variabilidade infinita de afirmações de validade relativa (grifo meu).

Nessa perspectiva, segundo Jung, se na qualidade de psicoterapeuta, este se colocar como autoridade diante do paciente e tiver a pretensão de saber algo sobre sua individualidade e fazer interpretações a seu respeito, o terapeuta demonstrará falta de espírito crítico, pois não estará reconhecendo que não tem condições de julgar a totalidade da personalidade que está a sua frente. Por isso. se eu estiver disposto a fazer um tratamento psicoterapêutico de um indivíduo, precisarei renunciar à superioridade no saber, a toda e qualquer autoridade e vontade de influenciar. Deverei, então, optar necessariamente por um método dialético, que consiste em confrontar as averiguações mútuas, sem limitá-lo pelos meus pressupostos.




Jung destaca que o método dialético foi utilizado dentro da evolução da psicoterapia. A formulação dialética se dá na interação psíquica, que nada mais é do que a relação de troca entre dois sistemas psíquicos. Entretanto, Jung chama atenção para a constatação de que existem conteúdos psíquicos essenciais, cuja interpretação pode ser dúbia, apontando a gravidade da aplicação despreocupada de teorias e métodos. 

Aqui chamo atenção para o arteterapeuta para não incorrer em "desvios" citados por Jung, a saber: todo o método cujo princípio básico diz que: "o individual não importa perante o genérico" pertencem aos métodos que impõem e aplicam o conhecimento de outras individualidades e a interpretação delas. 

(Continuarei trazendo outros pontos para reflexão. Se você gostou, deixe seu comentário!)









26/10/2015

O que é Arteterapia?








A Arteterapia distingue-se como método de tratamento para o desenvolvimento pessoal por integrar no contexto terapeutico mediadores artísticos. A relação terapêutica particular, consiste na interação entre o sujeito, o objeto de arte (produto) e o terapeuta. O recurso à imaginação, ao simbolismo e a metáforas enriquece e incrementa o processo terapêutico. A triáde sujeito-objeto-terapeuta facilitam a comunicação, a objetivação das relações, a reorganização dos objetos internos, a expressão emocional significativa, o aprofundar do conhecimento interno, liberta a capacidade de pensar e a criatividade (Sociedade Portuguesa de Arteterapia, 2015). 



Arteterapia é uma profissão assistencial ao ser humano. Ela oferece oportunidades de exploração de problemas e de potencialidades pessoais por meio da expressão verbal e não-verbal e do desenvolvimento de recursos físicos, cognitivos e emocionais, bem como a aprendizagem de habilidades, por meio de experiências terapêuticas com linguagens artísticas variadas (American Art Therapy Association, 2015)

Ainda que as formas visuais de expressão tenham sido básicas nas sociedades desde que existe história registrada, a Arteterapia surgiu como profissão na década de 30. A terapia por meio das expressões artísticas reconhece tanto os processos artísticos como as formas, os conteúdos e as associações, como reflexos de desenvolvimento, habilidades, personalidade, interesses e preocupações do sujeito. 

O uso da "livre expressão" como terapia implica que o processo criativo pode ser um meio tanto de reconciliar conflitos emocionais, como de facilitar a autopercepção e o desenvolvimento pessoal.

Segundo Vasconcellos e Giglio (2007) a arteterapia, vem sendo considerada uma modalidade terapêutica com características próprias, abarcando em si algumas distinções técnicas e conceituais, diferenciando-se através de duas linhas de atuação: arte como terapia (art as therapy) e arte psicoterapia (art psychotherapy). 

Arte como terapia,  o foco principal da terapia está no processo artístico, considerando suas propriedades curativas. Arte psicoterapia, os recursos artísticos são utilizados amplamente durante o processo terapêutico, acrescentando a via imagética e pictórica na comunicação entre paciente e psicoterapeuta (nesse caso, com a utilização de técnicas de artes plásticas). Nessa segunda linha de atuação, o fazer arte ocorre dentro de um enquadre psicoterapêutico específico, seguindo princípios, técnica, embasamento teórico e objetivos que visam fundamentalmente o desenvolvimento emocional do indivíduo, repercutindo na ampliação de potencialidades criativas" (Andrade, 2000 citado por Vasconcellos e Giglio, 2007).


Referências:

VASCONCELLOS, Erika Antunes  and  GIGLIO, Joel Sales. Introdução da arte na psicoterapia: enfoque clínico e hospitalar. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2007, vol.24, n.3 

American Art Therapy Association

Sociedade Portuguesa de Arteterapia


Você também poderá gostar de:













Arteterapia Sob a Perspectiva Junguiana







Oficina I: Símbolos e Fantasias

Parte I

Música, fantasias ..
Chapéus e lenços...
Sonhos no mundo da lua...
O feminino no mundo da fantasia.
Tudo pode acontecer e nada é esperado.
De repente ela é acometida por uma simples pergunta:
Quem é você?

Silêncio e lagrimas...
Palavras não conseguem sair pela garganta sufocada pela dor;
A dor no peito, a angústia, o passado no presente e o presente no passado.
Talvez o futuro incerto a leve para o mesmo lugar.

São histórias de vida, sonhos perdidos, afetos conflituosos,
Olhos atônitos tentam interpretar o que não podem.
A dor se desprende em lágrimas,
Sentimentos presos no coração.

A resposta é elucidativa para ela.
Resignificando os símbolos ela diz:
"Eu sou a minha mãe".
Assim, há momentos na vida em que, na relação mãe-filha,
os papeis se misturam ou se invertem.


Parte II- Sentimentos libertados


"Minha mãe querida! Você é linda!
Você se vai aos poucos e me deixa a cada dia.
Será que vou suportar a dor?
Você como uma criança; eu  como sua mãe. 
Precisei tanto de você, e hoje você depende de mim. 
Querida! Minha fofa!
Minha linda!
Tanto tempo se passou e só agora nos encontramos no afeto e no carinho.
Teus olhos, são os  meus olhos.
Somos tão parecidas...
Olho-me no espelho e te vejo.
Vejo tua alma e você a minha. 
Te amo, minha linda!"

Vitória, 29/08/15
I Encontro de Arteterapia ASA Fênix.





Oficina II - Um lindo balão azul




A música permite libertar as couraças que nos prendem, nos atormentam, nos sufocam.
Pegar carona na calda de um cometa, pela via láctea, estrada tao bonita ...
Nos permite entrar em contato com nossos sonhos e nos perguntar onde estão,
resgata-los e voltar a sonhar.

Ao dançar deixamos que a expressão corporal e a mente entre em contato com nosso eu.
Lenços de seda que bailam com o corpo, são símbolos e significados que se misturam no ritmo da música e da dança.

Elas pulam, rodam e giram umas entre as outras na roda, na vida.
 Liberdade, leveza, alegria, renovação são sentimentos traduzidos. Mais que isso, as expressões ocultam o que não podem dizer ou não querem.
Mas, em um processo arteterapêutico  os desdobramentos podem ser muitos. 

Débora Catarina Pfeilsticker 
18-09-15


Imagem Interna

Imagem corporal


A imagem corporal pode ser pintada ou desenhada,
Ela calmamente escolhe as cores,
Os contornos do corpo são desenhados suavemente.
Há certo perfeccionismo.
É seu auto-retrato.

Como se sentiu?
O que achou do resultado?

Nada. O "nada" poderia ser tudo.
A indiferença, o vazio.

Então, ela passa pintar sua imagem interior.
Vermelho, azul, amarelo, rosa e verde.
Preto?
Sim, um traço preto.
Nem tudo é perfeito.
Imagens do presente e do passado são mobilizadas.

Então, o que ela poderia mudar nessa imagem?
Ela é tomada pelo silêncio. 
Por que não clarear este traço preto?! 
Pronto! 

Estudo sobre a influência do padrão estético na auto-imagem corporal (Clique aqui)




Escolhendo símbolos

Figuras e símbolos





Entre tantas, você escolhe algumas.
Outras, por elas você é escolhida.
Os olhos fitam cada uma delas e imagens internas
são mobilizadas...
Você pensa, esta ou aquela?
Evita não olhar para aquela que te chama,
mas não tem jeito, ela te atrai.
Pronto!
Escolhi as figuras,
enumerei e falei de cada uma.
Por que escolhi esta figura?
Sentimentos e emoções são novamente mobilizados,
Símbolos e arquétipos,
Histórias reais,
Família,
Valores e desejos.
Ciclos vitais!

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Imagem corporal