29/10/2015

Quem se beneficia com a Arteterapia?


Arteterapia é praticada em saúde mental, na reabilitação, na área médica, educacional, forense, para o bem-estar, clínica privada e ambientes comunitários com diversas populações de cliente, tais como casais, família, terapia de grupo e individual.


Arteterapia é um tratamento eficaz para pessoas que possuem comprometimento do desenvolvimento médico, educacional e social ou psicológico. Os indivíduos que se beneficiam da arteterapia incluem aqueles que sobreviveram ao trauma resultante do combate, abuso e desastres naturais; pessoas com condições de saúde física adversas, tais como câncer, lesão cerebral traumática, e outra incapacidade de saúde; e pessoas com autismo, demência, depressão e outros distúrbios. Arteterapia ajuda as pessoas a resolver conflitos, melhorar as habilidades interpessoais, gerenciar comportamentos problemáticos, reduzir o estresse negativo, e alcançar a auto-percepção. Arteterapia também oferece uma oportunidade para desfrutar os prazeres de fazer arte de afirmação da vida (American Art Therapy Association, 2015)


Arteterapia e a autonomia criativa


"A arteterapia não é mero entretenimento, mas, sim, uma forma de linguagem que permite à pessoa comunicar-se com os outros. Possibilita à criança não só a liberdade de expressão, mas sustenta sua autonomia criativa, amplia o seu conhecimento sobre o mundo e proporciona seu desenvolvimento emocional e social"(Valladares; Carvalho, 2006).


28/10/2015

Um Olhar para Dentro de Si - D.C. Pfeilsticker




"Arteterapia pode ser um espaço privilegiado para o sujeito olhar para si mesmo e para o outro a partir de 
flashes do insconciente na concretude da arte". 


Débora Catarina Pfeilsticker
03/10/2015

Art therapy and Cognitive Processing Therapy

Art therapy and CPT benefit PTSD, early results suggest

27/10/2015

"A Prática da Psicoterapia" - Obra de C.G. Jung

O livro "A Prática da Psicoterapia" (Jung, 1952) reúne textos do autor sobre a prática psicoterapêutica no sentido de trazer contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência. 

No âmbito da Arteterapia, é sabido que os mediadores artísticos como recurso à imaginação, ao simbolismo e à metáforas enriquecem e incrementam o processo terapêutico. A triáde sujeito-objeto-terapeuta facilitam a comunicação, a objetivação das relações, a reorganização dos objetos internos, a expressão emocional significativa, o aprofundar do conhecimento interno (Sociedade Portuguesa de Arteterapia, 2015). Assim, considerando a interação entre o sujeito, o objeto de arte (produto) e o terapeuta, surge a seguinte questão: quais as contribuições desta obra de Jung para a prática do arteterapeuta?  

Nessa perspectiva, visando responder as inquietações do arteterapeuta em formação - permanente, 
fiz alguns recortes da obra de Jung que considerei relevantes para a prática da Arteterapia e para que o arteterapeuta reconheça,  no campo da terapêutica, seu núcleo de conhecimento, seus limites e suas perspectivas na área da saúde.






Jung acreditava que o psicoterapeuta seriamente empenhado em compreender o homem inteiro deveria entender o simbolismo da linguagem dos sonhos. E esta, como toda linguagem, também necessitará de conhecimentos históricos para sua interpretação. Assim, o conhecimento da 
linguagem simbólica dá condições ao terapeuta ajudar seu cliente a sair do egocentrismo 
em direção à horizontes mais amplos de sua evolução social, moral e espiritual.


Princípios básicos da prática da psicoterapia


A psicoterapia é um campo da terapêutica, que se desenvolveu e atingiu certa autonomia a partir do do século XX. Pouco a pouco foi se constatando que a psicoterapia se trata de um tipo de procedimento dialético. Entretanto, distanciou-se da concepção original passando a ser aplicada de forma estereotipada por qualquer pessoa, para obter um efeito desejado.  Isto se deve entre outros fatos, a necessidade de reconhecer que era possível interpretar os dados da experiência humana. Daí, muitas escolas desenvolveram diferentes métodos tais como: "terapia pela sugestão" de LIEBEAUT-BERNHEIM, a "persuasion" de BABINSKI, a "psicanalise" de FREUD, Cada um desses métodos e teorias tem razão de ser pelo êxito de seus respectivos pressupostos. As contradições, entretanto, põe em evidência as dificuldades que o objeto da investigação coloca à inteligencia do pesquisador. Isto porque a individualidade do sistema psíquico é infinitamente variável, e o resultado é uma variabilidade infinita de afirmações de validade relativa (grifo meu).

Nessa perspectiva, segundo Jung, se na qualidade de psicoterapeuta, este se colocar como autoridade diante do paciente e tiver a pretensão de saber algo sobre sua individualidade e fazer interpretações a seu respeito, o terapeuta demonstrará falta de espírito crítico, pois não estará reconhecendo que não tem condições de julgar a totalidade da personalidade que está a sua frente. Por isso. se eu estiver disposto a fazer um tratamento psicoterapêutico de um indivíduo, precisarei renunciar à superioridade no saber, a toda e qualquer autoridade e vontade de influenciar. Deverei, então, optar necessariamente por um método dialético, que consiste em confrontar as averiguações mútuas, sem limitá-lo pelos meus pressupostos.




Jung destaca que o método dialético foi utilizado dentro da evolução da psicoterapia. A formulação dialética se dá na interação psíquica, que nada mais é do que a relação de troca entre dois sistemas psíquicos. Entretanto, Jung chama atenção para a constatação de que existem conteúdos psíquicos essenciais, cuja interpretação pode ser dúbia, apontando a gravidade da aplicação despreocupada de teorias e métodos. 

Aqui chamo atenção para o arteterapeuta para não incorrer em "desvios" citados por Jung, a saber: todo o método cujo princípio básico diz que: "o individual não importa perante o genérico" pertencem aos métodos que impõem e aplicam o conhecimento de outras individualidades e a interpretação delas. 

(Continuarei trazendo outros pontos para reflexão. Se você gostou, deixe seu comentário!)









26/10/2015

O que é Arteterapia?








A Arteterapia distingue-se como método de tratamento para o desenvolvimento pessoal por integrar no contexto terapeutico mediadores artísticos. A relação terapêutica particular, consiste na interação entre o sujeito, o objeto de arte (produto) e o terapeuta. O recurso à imaginação, ao simbolismo e a metáforas enriquece e incrementa o processo terapêutico. A triáde sujeito-objeto-terapeuta facilitam a comunicação, a objetivação das relações, a reorganização dos objetos internos, a expressão emocional significativa, o aprofundar do conhecimento interno, liberta a capacidade de pensar e a criatividade (Sociedade Portuguesa de Arteterapia, 2015). 



Arteterapia é uma profissão assistencial ao ser humano. Ela oferece oportunidades de exploração de problemas e de potencialidades pessoais por meio da expressão verbal e não-verbal e do desenvolvimento de recursos físicos, cognitivos e emocionais, bem como a aprendizagem de habilidades, por meio de experiências terapêuticas com linguagens artísticas variadas (American Art Therapy Association, 2015)

Ainda que as formas visuais de expressão tenham sido básicas nas sociedades desde que existe história registrada, a Arteterapia surgiu como profissão na década de 30. A terapia por meio das expressões artísticas reconhece tanto os processos artísticos como as formas, os conteúdos e as associações, como reflexos de desenvolvimento, habilidades, personalidade, interesses e preocupações do sujeito. 

O uso da "livre expressão" como terapia implica que o processo criativo pode ser um meio tanto de reconciliar conflitos emocionais, como de facilitar a autopercepção e o desenvolvimento pessoal.

Segundo Vasconcellos e Giglio (2007) a arteterapia, vem sendo considerada uma modalidade terapêutica com características próprias, abarcando em si algumas distinções técnicas e conceituais, diferenciando-se através de duas linhas de atuação: arte como terapia (art as therapy) e arte psicoterapia (art psychotherapy). 

Arte como terapia,  o foco principal da terapia está no processo artístico, considerando suas propriedades curativas. Arte psicoterapia, os recursos artísticos são utilizados amplamente durante o processo terapêutico, acrescentando a via imagética e pictórica na comunicação entre paciente e psicoterapeuta (nesse caso, com a utilização de técnicas de artes plásticas). Nessa segunda linha de atuação, o fazer arte ocorre dentro de um enquadre psicoterapêutico específico, seguindo princípios, técnica, embasamento teórico e objetivos que visam fundamentalmente o desenvolvimento emocional do indivíduo, repercutindo na ampliação de potencialidades criativas" (Andrade, 2000 citado por Vasconcellos e Giglio, 2007).


Referências:

VASCONCELLOS, Erika Antunes  and  GIGLIO, Joel Sales. Introdução da arte na psicoterapia: enfoque clínico e hospitalar. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2007, vol.24, n.3 

American Art Therapy Association

Sociedade Portuguesa de Arteterapia


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Arteterapia Sob a Perspectiva Junguiana







Oficina I: Símbolos e Fantasias

Parte I

Música, fantasias ..
Chapéus e lenços...
Sonhos no mundo da lua...
O feminino no mundo da fantasia.
Tudo pode acontecer e nada é esperado.
De repente ela é acometida por uma simples pergunta:
Quem é você?

Silêncio e lagrimas...
Palavras não conseguem sair pela garganta sufocada pela dor;
A dor no peito, a angústia, o passado no presente e o presente no passado.
Talvez o futuro incerto a leve para o mesmo lugar.

São histórias de vida, sonhos perdidos, afetos conflituosos,
Olhos atônitos tentam interpretar o que não podem.
A dor se desprende em lágrimas,
Sentimentos presos no coração.

A resposta é elucidativa para ela.
Resignificando os símbolos ela diz:
"Eu sou a minha mãe".
Assim, há momentos na vida em que, na relação mãe-filha,
os papeis se misturam ou se invertem.


Parte II- Sentimentos libertados


"Minha mãe querida! Você é linda!
Você se vai aos poucos e me deixa a cada dia.
Será que vou suportar a dor?
Você como uma criança; eu  como sua mãe. 
Precisei tanto de você, e hoje você depende de mim. 
Querida! Minha fofa!
Minha linda!
Tanto tempo se passou e só agora nos encontramos no afeto e no carinho.
Teus olhos, são os  meus olhos.
Somos tão parecidas...
Olho-me no espelho e te vejo.
Vejo tua alma e você a minha. 
Te amo, minha linda!"

Vitória, 29/08/15
I Encontro de Arteterapia ASA Fênix.





Oficina II - Um lindo balão azul




A música permite libertar as couraças que nos prendem, nos atormentam, nos sufocam.
Pegar carona na calda de um cometa, pela via láctea, estrada tao bonita ...
Nos permite entrar em contato com nossos sonhos e nos perguntar onde estão,
resgata-los e voltar a sonhar.

Ao dançar deixamos que a expressão corporal e a mente entre em contato com nosso eu.
Lenços de seda que bailam com o corpo, são símbolos e significados que se misturam no ritmo da música e da dança.

Elas pulam, rodam e giram umas entre as outras na roda, na vida.
 Liberdade, leveza, alegria, renovação são sentimentos traduzidos. Mais que isso, as expressões ocultam o que não podem dizer ou não querem.
Mas, em um processo arteterapêutico  os desdobramentos podem ser muitos. 

Débora Catarina Pfeilsticker 
18-09-15


Imagem Interna

Imagem corporal


A imagem corporal pode ser pintada ou desenhada,
Ela calmamente escolhe as cores,
Os contornos do corpo são desenhados suavemente.
Há certo perfeccionismo.
É seu auto-retrato.

Como se sentiu?
O que achou do resultado?

Nada. O "nada" poderia ser tudo.
A indiferença, o vazio.

Então, ela passa pintar sua imagem interior.
Vermelho, azul, amarelo, rosa e verde.
Preto?
Sim, um traço preto.
Nem tudo é perfeito.
Imagens do presente e do passado são mobilizadas.

Então, o que ela poderia mudar nessa imagem?
Ela é tomada pelo silêncio. 
Por que não clarear este traço preto?! 
Pronto! 

Estudo sobre a influência do padrão estético na auto-imagem corporal (Clique aqui)




Escolhendo símbolos

Figuras e símbolos





Entre tantas, você escolhe algumas.
Outras, por elas você é escolhida.
Os olhos fitam cada uma delas e imagens internas
são mobilizadas...
Você pensa, esta ou aquela?
Evita não olhar para aquela que te chama,
mas não tem jeito, ela te atrai.
Pronto!
Escolhi as figuras,
enumerei e falei de cada uma.
Por que escolhi esta figura?
Sentimentos e emoções são novamente mobilizados,
Símbolos e arquétipos,
Histórias reais,
Família,
Valores e desejos.
Ciclos vitais!

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Imagem corporal





Arteterapia Sob a Perspectiva Junguiana


A interseção arte, psicologia, psiquiatria e psicanálise como foco de interesse de pesquisadores tem início no final do século XIX com Simon (1876 e 1888), Lambroso (1889) e maior repercussão no séc. XX com os trabalhos de Tardieu (1972); Mohr (1906) e Prinzhorn (1922).

Como campo específico do conhecimento, a arteterapia firma-se nos Estados Unidos da América, em
1940, com o trabalho de Margareth Nauberg, influenciada pela psicanálise freudiana, estabeleceu as fundamentações teóricas da Arteterapia, além de demarca-la como área do saber.

       "O processo de arteterapia se baseia no reconhecimento de que os pensamentos
 e os sentimentos    mais fundamentais do homem, derivados do inconsciente, 
encontram sua expressão em imagens e não em palavras"
(Naumburg, 1991, p.388 citado por Vasconcelos e Giglio, 2007). 


Sigmund Freud observou que o artista pode simbolizar concretamente o inconsciente em sua produção, retratando conteúdos do psiquismo. Acerca disso, no quadro de Leonardo denominado  “A Sant’Ana, Virgem e o Menino”, Freud observou uma síntese da história da infância do artista.  A relação com as duas mães que aparecem em seus quadros, tanto no do Louvre quanto no   desenho de Londres,  com um corpo duplo e uma mistura de pernas, Leonardo pode ter imaginado  que aconteceu com sua mãe o mesmo que com a Virgem Maria, mãe do Menino Jesus, representando duas mulheres, que na análise de Freud, seria sua avó com aparência jovem junto a sua mãe que também teve um filho sem pai, e, portanto, sem a relação sexual e sem a castração (Santos, 2012).




A mistura de pernas é algo que se repete também no seu desenho sobre a relação sexual, assim como se repete em muitos quadros a aparência andrógina de suas figuras, mostrando que Leonardo tentou fundir o masculino e o feminino numa mesma figura.

 "As técnicas da arteterapia se baseiam no conhecimento de que cada indivíduo, treinado ou não em arte, tem uma capacidade latente de projetarseus conflitos internos em forma visual. Quando os pacientes visualizam tais experiências internas, ocorre freqüentemente que eles se tornam mais articulados verbalmente "(Naumburg, 1991, p.388 citado por Vasconcelos e Giglio, 2007).

Sob a perspectiva da Psicologia Analítica, os estudos de Jung influenciaram amplamente o campo da arteterapia, trazendo à tona discussões mais profundas em torno da importância do mundo imagético na compreensão do psiquismo e, conseqüentemente, valorizando a análise das imagens simbólicas projetadas nas produções artísticas dos pacientes dentro do enquadre psicoterapêutico. 



Segundo Jung, o princípio originário que rege a natureza humana é o mundo das imagens e, portanto, 
toda experiência humana tem seu desdobramento a partir dessa premissa. Ele atribui à imagem arquetípica - que também foi nomeada como imagem primordial  (manifestação de ordem coletiva e de características mitológicas) - tem papel fundamental na constituição de todos os processos mentais, considerando que aí se configuram as vivências primordiais da humanidade (Kugler, 2002 citado por Vasconcellos e Giglio, 2007).

Os arquétipos - “elementos estruturais numinosos” que dão a fôrma para que conteúdos do consciente se moldem e, assim, possam tornar-se perceptíveis - são os centros energéticos que poderão ser constelados ao emergir na forma de símbolos.  O símbolo também agrega função terapêutica que não se restringe à imagem em si, contemplando o significado que transcende a própria imagem (Tommasi, 2003 citado por Vasconcellos e Giglio, 2007).


 “[...] nunca se pode encontrar o arquétipo em si de maneira direta, mas apenas  
                            indiretamente, quando se manifesta no símbolo ou no sintoma ou no complexo” 
                                                                                                                 (Jacobi, 1995, p.73).

Jung define o fenômeno imagético como “uma expressão concentrada da situação psíquica como um todo”, distinguindo-o de qualquer manifestação patológica (onde costuma ocorrer distorção da realidade), sendo um processo interno. A expressão imagética, portanto, agrega apenas conteúdos do inconsciente constelados naquele momento, visto que a seleção dos conteúdos relevantes e irrelevantes à formação da imagem é um processo consciente (Vasconcellos e Giglio, 2007).
                        

A finalidade do ‘método de expressão’ com elementos pictóricos é tornar os conteúdos inconscientes acessíveis e, assim, aproximá-los da compreensão. Portanto, tanto a produção de um artista ou de um paciente inserido em um ambiente psicoterapêutico, a imagem que se revela durante o processo terapêutico, são aspectos da psique do sujeito constelados naquele específico momento (Giglio, 1992; Zimmermann, 1992).





Ao fazermos a leitura de um símbolo, procuramos auxiliar o sujeito a decifrar a realidade invisível que se oculta através do que nos é perceptível no ambiente terapêutico. ¨No entanto, mesmo sendo interpretado, os significados nele implícitos nunca se esgotam, pois quando seu significado é completamente decifrado, ocorre a morte do símbolo¨ (Kast, 1997a citado por Vasconcellos e Giglio, 2007).


Com essa terapêutica consegue-se impedir a perigosa cisão entre a consciência e os processos inconscientes. Todos os processos e efeitos de profundidade psíquica, representados pictoricamente, são, em oposição à representação objetiva ou ‘consciente’, simbólicos, quer dizer, indicam da melhor maneira possível, e de forma aproximada, um sentido que, por enquanto, ainda é desconhecido (Jung, 1935/1985, p.120)".


A partir dos estudos de Silveira (1992), as imagens internas são subjetivas por retratarem a realidade psíquica em sua amplitude (consciente e inconsciente pessoal), mas podem ser universais, pois muitas vezes apresentam motivos arquetípicos compartilhados com toda a humanidade (inconsciente coletivo) (Vasconcellos e Giglio, 2007).
Outra autora que estudou os aspectos terapêuticos do ato de pintar e desenhar foi Zimmermann (1992). Ela destacou que neste processo terapêutico ocorre a canalização da energia contida por meio da catarse, podendo desencadear a redistribuição da energia psíquica durante a elaboração artística, mencionando a oportunidade de oferecimento de espaço continente às projeções de conteúdos inconscientes durante o processo expressivo, discutindo também a questão da análise e interpretação das produções dos pacientes (Vasconcellos e Giglio, 2007)

Por fim, o que se deseja dizer é que a expressão livre por meio da linguagem gráfica e pictórica (pela via das artes plásticas) vem sendo reconhecida pelos profissionais da área da saúde pelas suas potencialidades terapêuticas. 

Projeção


Projeção é um conceito chave no campo da psicoterapia. Basicamente, tudo o que nos é inconsciente (e a Sombra se inclui nisso) só nos é percebido quando é projetado. E o que isso quer dizer? Basicamente que quando eu olho para algo e eu reconheço que isso é diferente de mim, eu estou projetando nela a minha sombra; principalmente se além de reconhecer a diferença eu coloco repulsa ou algo que me separe ainda mais disso (ASSIS, 2010). 

Segundo o dicionário crítico de Análise Junguiana, a abordagem da projeção, feita por Jung, faz-se sobre uma base psicanalítica. Pode-se considerar a projeção como normal ou patológica e como uma defesa contra a ansiedade. Emoções difíceis e partes inaceitáveis da personalidade podem ser colocadas em uma pessoa ou objeto externo ao sujeito (Ex: 'aquele sujeito é preguiçoso!", exemplo meu).  Em termos de experiência, uma pessoa sente alguma coisa a respeito de uma outra pessoa (ou instituição ou grupo) que ela considera aplicável àquela pessoa; mais tarde pode compreender que não se trata disso. Um terapeuta imparcial, um analista, pode entender isso bem mais precocemente.

Na PSICOLOGIA ANALÍTICA também se enfatizou a projeção como meio pelo qual os conteúdos do mundo interno se tornam disponíveis à consciência do ego. A hipótese é de que um encontro entre o ego e tais conteúdos inconscientes tem de alguma forma um valor. O mundo externo das pessoas e coisas serve ao mundo interno ao fornecer a matéria-prima a ser utilizada pela projeção. Pode-se ver isso com maior clareza quando o que é projetado também é representativo de uma parte da psique.

O encontro com a SOMBRA freqüentemente ocorre na projeção. Por definição, a sombra é o repositório daquilo que é inaceitável para a consciência. Está, portanto, propícia para a projeção. Contudo, para que alguma coisa valiosa seja obtida, é necessário que se realize alguma reintegração ou recuperação daquilo que é projetado. Jung sugeria que, por conveniência de compreensão, esse processo fosse dividido em cinco fases:

(1) A pessoa se convence de que o que vê na outra é realidade objetiva.
(2) Começa a ocorrer um reconhecimento gradativo a partir de uma diferenciação entre o outro como “realmente” é e a imagem projetada.
(3) Faz-se algum tipo de avaliação ou julgamento sobre a discrepância.
(4) Chega-se a uma conclusão de que o que se percebia era errôneo ou ilusório.
(5) Uma busca consciente das fontes e da origem da projeção é empreendida.

Na ARTETERAPIA, a influência das teorias de Jung contribuem para o arteterapeuta auxiliar o cliente na compreensão daquilo que pode ser  projetado por ele e trabalhar seus conteúdos internos a partir da livre expressão.


Referências:
SAMUELS, Andrew. DICIONARIO_CRITICO_DE_ANALISE_JUNGUIANA.pdf

ASSIS, Pablo. Disponível em: http://pablo.deassis.net.br/2010/06/nossa-amiga-a-sombra/

Sombra: definições e possibilidades terapêuticas

"A Sombra é um dos conceitos centrais presentes em praticamente todas as formas de se compreender a psicologia de Jung. [...] Ela recebe tudo aquilo que não aceitamos como parte da nossa personalidade ou “identidade” ou “Ego”, chamado de “Complexo de Eu”. (Pablo de Assis, 2010).


Em 1945, Jung deu uma definição mais direta e clara da sombra: “a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser”. Sendo a sombra um arquétipo, seus conteúdos são poderosos, marcados pelo AFETO, obsessivos, possessivos, autônomos – em suma, capazes de alarmar e dominar o ego estruturado. Nesta simples afirmação estão incluídas as variadas e repetidas referências à sombra como o lado negativo da personalidade, a soma de todas as qualidades desagradáveis que o indivíduo quer esconder, o lado inferior, sem valor, e primitivo da natureza do homem, a “outra pessoa” em um indivíduo, seu próprio lado obscuro (Samuel, Shorter, Plaut, 1988). 


Jung era perfeitamente consciente da realidade do MAL na vida humana. Vezes e mais vezes enfatizou que todos nós temos uma sombra, que toda coisa substancial emite uma sombra. Todo mundo carrega uma sombra, e quanto menos ela está incorporada na vida consciente do indivíduo, mais negra e densa ela é. Se uma inferioridade é consciente, sempre se tem uma oportunidade de corrigi-la. Além do mais, ela está constantemente em contato com outros interesses, de modo que está continuamente sujeita a modificações. Porém, se é reprimida e isolada da CONSCIÊNCIA, jamais é corrigida, e pode irromper subitamente em um momento de inconsciência. De qualquer modo, forma um obstáculo inconsciente, impedindo nossos mais bem intencionado propósitos (Samuel, Shorter, Plaut, 1988).

E como podemos tornar consciente nossas sombras ou nossos conteúdos inconscientes reprimidos? Esta é uma das questões que norteia este texto para serem respondidas, especialmente, a partir de Jung e Freud. Trazer as diferenças e semelhanças das teorias da psicologia analítica e da psicanálise me instigam enquanto pesquisadora, mas também quando se conhecer a área de domínio do Arteterapeuta. Delimitar seu campo, contribuir para a construção do conhecimento do Arteterapeuta constitui aqui em objetivo. 

Assim, prossigo. É a Freud que Jung dá o crédito de chamar a atenção do homem moderno para a dissociação entre os lados claro e escuro da psique humana. Abordando o problema sob um ângulo cientifico e sem qualquer finalidade religiosa, Jung percebia que Freud descobrira o abismo da escuridão na natureza humana, que o iluminado otimismo do cristianismo ocidental e a era científica haviam procurado ocultar. Jung falava do método de Freud como a mais detalhada e profunda análise da "sombra" jamais realizada e admitia tratar a sombra de um modo diferente da abordagem freudiana. Jung, reconhecendo que a sombra é uma parte viva da personalidade e que “quer viver com esta” de alguma forma, identifica-se, antes de tudo, com os conteúdos do INCONSCIENTE pessoal. Lidar com estes envolve o indivíduo ter de harmonizar-se com os INSTINTOS e como a expressão destes foi submetida ao controle pelo COLETIVO. Mais ainda, os conteúdos do inconsciente pessoal estão inexplicavelmente fundidos com os conteúdos arquetípicos do inconsciente coletivo, estes por sua vez contendo seu próprio lado obscuro. Daí, o termo empregado mais freqüentemente pelos psicólogos analíticos para o processo do confronto com a sombra na ANÁLISE é “pôr-se em termos com a sombra” (Samuel, Shorter, Plaut, 1988).

Os conteúdos capazes de se introduzir na consciência, no início aparecem na PROJEÇÃO e, quando a consciência se vê em uma condição ameaçadora ou duvidosa, a SOMBRA se manifesta como uma projeção forte e irracional, positiva ou negativa, sobre o próximo (Samuel, Shorter, Plaut, 1988).

Na "sombra" Jung encontrava uma explicação convincente não só das antipatias pessoais, mas também dos cruéis preconceitos e perseguições de nosso tempo. No que concerne à sombra, o objetivo da PSICOTERAPIA é desenvolver uma conscientização daquelas IMAGENS e situações mais passíveis de produzir projeções de sombra na vida individual. Admitir (analisar) a sombra é romper com sua influência compulsiva (Samuel, Shorter, Plaut, 1988).

[...] É preciso entender que rejeitar a sombra do outro não é lutar contra ela mas, segundo uma conhecida analogia, seria recomendado fazer como um bom toureiro que deixa o touro passar sem o atingir. A dificuldade está na complicada teia de trocas de sombras nos relacionamentos que acaba por roubar de ambas as partes sua plenitude potencial (www.luzes.org, 2015).

Quando dizemos que o lado sombra encontra-se reprimido, nos aproximamos da definição freudiana dos conteúdos inconscientes, enquanto que o conceito "lado sombra" compõe a teoria da psicologia junguiana.  A diferença, entretanto, está na origem de sua constituição que, para Freud os conteúdos reprimidos seriam fruto das experiências infantis que foram transferidas para o inconsciente por não serem suportadas pelo EGO, e para Jung, seria um arquétipo primordial absorvido do inconsciente coletivo (www.luzes.org, 2015)

Em ambos os casos, conteúdos inconscientes reprimidos ou o "lado sombra", existem e se manifestam, muitas vezes de forma autônoma. Então, como lidar com o "lado sombra" para que não passe a governar nossas vidas mesmo que a nossa revelia? A resposta é a reelaboração dos conteúdos inconscientes. E como trazê-los à luz da consciência?



Acredito que a Arteterapia como um método que pode alcançar algum resultado terapêutico, com resignificação de conteúdos inconscientes, trazendo-os para a forma concreta e verbal (reflexiva) na instância do Ego a partir da livre expressão dos elementos artísticos. Este método não se trata de uma psicoterapia, seu campo de atuação delimita-se pelo sujeito-processo-arteterapeuta  na recondução da energia psíquica que emerge do processo da livre expressão mas, que retorna de uma outra forma reelaborada pela percepção e leitura do sujeito. No entanto, o arteterapeuta precisa estar atento aos sinais e ou sintomas que demandam, em muitos casos, uma análise psicoterapêutica.
No campo da psicoterapia, o estudo aprofundado desses sintomas ou comportamentos que se concretizam a partir de atos falhos, discursos repetitivos, conteúdos de sonhos, sintomas físicos, tiques nervosos, cargas emocionais despropositadas, entre outros, poderá clarificar quais as motivações levaram à reprimi-los ou refletir sobre que conceitos equivocados os mantiveram reprimidos (www.luzes.org, 2015).

A clarificação desses conteúdos permite o autoconhecimento tornando nossos pensamentos e escolhas mais conscientes.


Fonte: A Critical Dictionary of Jungian Analysis © 1986 Andrew Samuels, Bani Shorter, Alfred Plaut Publicado primeiramente em 1986 por Routledge & Kegan Paul plc 11 New Fetter Lane, London EC4P 4EE 1ª Edição em português Imago Editora Rio de Janeiro, 1988.