25/11/2015

Estamira: A loucura da dor




Ela caminha solitária pelo lixão,
Veste sua indumentária dia após dia;
No lixo encontra seu consolo e seu sustento.
No meio ao depósito de restos e descuidos,
Acredita que proteger é limpar, limpar sua dor.

Em seu delírio ela é a visão de cada um.
Foi estuprada, violentada e abusada por homens que nenhum
cientista seria capaz de dimensionar sua dor...
"Vai além do além".
"O além do além é o irrecuperável".
A dor?  Vai além do além, a dor de deixar sua mãe;
A dor de ser estuprada;
A dor de ser traída em sua própria casa;
A dor de ser rejeitada e despejada com seus filhos pelo homem que amava;
Sim, a dor é irrecuperável como o além do além.
Quantas de nós, não sentimos um pouco da dor de Estamira?

Em seu discurso místico, o "trocadilho", o 'Deus sujo" a separou do seu Eu;
"Ele"? Queria que aceitasse o assaltante, o estuprador.
Aceitar isto é romper com seu Eu.
Estamira é o nome da sua verdade;
Estamira é a sua integridade, sua moral;
'Eu sou Estamira"!

Não aceitando a dor, rompe com seu ego e se encontra no lixão.
Na podridão do homem para queimar a sua dor.
"O fogo é a solução".
Ela não quer mudar, nasceu e não admite essas ocorrências.
Não gosta de erros, de suspeitas, humilhação.
O fogo queima o inimaginável em seu delírio.
A dor de Estamira é inimaginável. Mas,
em sua sabedoria delirante ...
"Tudo que é imaginável existe, tem e é".
"Eu sou Estamira!" E você?

Débora Catarina Pfeilsticker
(26/09/15)







Assista Estamira: Filme de Marcos Prado




19/11/2015

Caixa de Areia (Sand Play)




A técnica de caixa de areia (sand play) foi criada por Kalff, analista de Zurique, Suiça, contemporânea e seguidora de C.G. Jung. O trabalho tem como ideia mobilizar símbolos do inconsciente que possam trazer uma resposta à situação consciente, de maneira mais segura que a Imaginação Ativa que só deve ser aplicada em pacientes nos quais estejamos convictos da existência de uma estrutura forte de ego, evitando o risco de uma dissociação psicótica.

Utiliza-se uma caixa de medidas específicas (72 x 57 x 7cm), cheia até a metade com areia, e uma estante com miniaturas, as mais variadas categorias (carros, bonecos, aviões, utensílios, conchas etc) O tamanho da caixa tem a intenção de limitar a imaginação do paciente, agindo como fator de proteção.

Jung sempre valorizou muito os símbolos do inconsciente que apareciam em sonhos. Ele procurou criar técnicas que, além do sonhos, pudessem mobilizar o aparecimento de símbolos na consciência. Então, utilizou no seu consultório a técnica do desenho livre e da Imaginação Ativa.

No âmbito da Arteterapia, a história do paciente aliada à técnica da Caixa de Areia, com disposição das miniaturas na caixa, permite uma compreensão melhor a situação psíquica do sujeito. Segundo Paula Boechat (2011) o conhecimento sobre mitologia pode ser também um aliado para perceber figuras arquetípicas na concretização dos símbolos. As associações do paciente às cenas na Caixa de Areia contribuem para a reelaboração de questões e conflitos pessoais no seu próprio Processo de Individuação.




10/11/2015

Símbolos e significados

"Eu sei quem eu sou e quem posso ser, se eu desejar". 
Miguel de Cervantes Saavedra


Pimenta Dedo de Moça

Não sou objeto, mas um símbolo.
Um símbolo daquilo que represento para ti.
Tu me qualificastes e com isto expôs algo de ti mesmo.
Nada sabem de ti.
Palavras soltas, são muito e pouco ao mesmo tempo...
Mas, eu te conheço.
Sei de suas histórias e de seus medos.
Deixem que pensem de ti o que quiserem!
Conheço tua essência.
Passastes por um processo de crescimento e de libertação.
Agora te digo: sejas livre para viver seu amor, sua sensualidade.
Saibas que tua feminilidade te dá brilho - como a pimenta no prato mais elaborado.
Perdestes tempo?
Ficastes presa à um emaranhado de arquétipos...
Não importa.
És livre agora!
Tua força e ousadia te fizeram independente.
Só te resta ser feliz!

Débora Catarina Pfeilsticker 
(12/05/2015)




03/11/2015

Processo de Individuação e Alquimia



A metáfora alquímica descrita por meio da "Montanha dos Adeptos", assim como os sonhos, fantasias, símbolos e imaginações são grandes instrumentos para ampliar a consciência (MAGALDI FILHO, 2011).


Jung pensava que a alquimia, verificada à luz do simbólico e não do cientifico, poderia ser considerada como um dos precursores do moderno estudo do INCONSCIENTE e, em particular, do interesse analítico na TRANSFORMAÇÃO da personalidade. Jung entendeu que o processo alquímico devia ser abordado de um ponto de vista simbólico, mais que tomada como uma pseudociência até agora desacreditada.

A fórmula alquímica denominada V.I.T.R.I.O.L (palavra advinda do latim) sintetiza a doutrina alquimista: "Visita Interiorem Terrae Rectificando Invenies Occultum Lapidem " e quer dizer: "Visite o seu interior para encontrar sua pedra oculta" indica que podemos deixar de ser pedras brutas. Porque, devido a contínua lapidação do autoconhecimento e do domínio da máquina, vamos ficando mais cristalinos até atingirmos o diamante original - que é a nossa essência! (MAGALDI FILHO, 2011, grifo meu).

autoconhecimento é o caminho para promover as necessárias quebras de padrões comportamentais que dificultam o processo de individuação  conforme Jung define.

Com base na proposta de Rosângela Correa (2015), psicoterapeuta Junguiana,  a metáfora alquímica é aqui apresentada para melhor entendimento de como podemos conduzir as etapas no processo de individuação, junto ao cliente/sujeito, a partir da dinâmica observada na gravura da montanha dos adeptos: 

Primeira fase: A Calcinação: 

A calcinação é um tratamento térmico capaz de promover transformações fisioquímicas como a eliminação de substâncias voláteis neles contidas tais como água. Então, quando o cliente chega ao consultório, ele chega calcinando, mas calcinando pela água, que representa as emoções agindo de forma destrutiva, cristalizando os complexos. Sendo assim, o trabalho do terapeuta, nesta fase, é colocar o “fogo”, mas um “fogo” planejado, ou seja, utilizar o “fogo” do cliente , para combater o próprio “fogo”. Utilizando a queixa ou sintoma, produto da "calcinação", para a transformação.




Segunda fase: Sublimação

Consiste em converter um corpo de estado sólido para estado gasoso. Para Jung, a sublimação corresponde a ação de colocar ar, ou seja, pensamento, ampliação de consciência, em cima da cal ou do pó que possibilita manuseio, pois ainda não tem forma, visto que o complexo que foi calcinado e agora tornou-se pó, permite e gera condições para o indivíduo lidar com a sombra, com os infernos internos. E neste momento, o terapeuta junto ao cliente começa a planejar ou imaginar como ele, cliente, quer lidar com a vida, averiguando e identificando suas reais expectativas, referente à situação em que esteja inserido, e o que, de fato, espera de sua própria existência, de maneira ampla e global. E depois desta sincera avaliação, de âmbito absolutamente pessoal, passam a verificar as disposições de merecimento, também, pessoal, mediante as expectativas planejadas e esperadas. Sendo que, p. ex., é improvável que uma pessoa adquira fluência em idioma estrangeiro, sem empenhar esforço e recursos pessoais para o aprendizado do mesmo.

Terceira fase: Solução/Solver

Nesta fase o líquido homogêneo resultante da dissolução, pode ser reutilizado. Portanto, podemos colocar o sentimento novamente, mas agora de forma consciente, lógica, inteligente. Em outras palavras, ao passarmos pelas etapas de calcinação e sublimação, fazemos com que o indivíduo tenha percepções intuitivas para poder tirar a exuberância da carga emocional dos complexos, e através da etapa solução, o indivíduo possa solver, aproximando o sentimento sem correr o risco de despertar o complexo novamente, dando nova forma a antigos conteúdos. E neste momento, também criamos condições para o indivíduo galgar outra dimensão, em que podemos chamar de rubedo.

Quarta fase: Putrefação/Fermentação

Consiste no processo de decomposição. Sendo assim, agora a presença da água/sentimento, diante daquele conteúdo, não calcina mais pelo fogo devastador, mas, ainda assim, provoca o equivalente a uma calcinação, só que nesta etapa, de forma branda, pois consiste na putrefação ou fermentação. Isto corresponde às necessárias mortes simbólicas, para a possibilidade de renovação, de criação, visto que, precisamos fazer substituições de conteúdos destrutivos por conteúdos construtivos. Nesta etapa acontecem as transformações, tendo em vista que, a base da alquimia é a troca, e se perdemos ou negligenciarmos a troca, também perderemos a oportunidade de transformação. Temos que estar atentos e dispostos para promovermos as necessárias quebras dos padrões de cristalização, para assim, rearranjarmos a própria economia psíquica.

Quinta fase: Separação/Destilação

Consiste em isolar através da evaporização e a imediata condensação dos componentes voláteis, da mistura líquida, obtendo-se a água destilada livre de impurezas. Este é o momento onde conscientemente, o indivíduo vai fazer escolhas diante das possibilidades que surgiram em função das mortes simbólicas. São as rupturas, é o renascer literal, e isto tem que ser conscientemente, levando em conta que cada escolha implica em uma desistência, cada decisão, implica em uma cisão, ou seja, uma separação.

Sexta fase: Coagulação

Refere-se ao resultado da solidificação. A partir do momento que o indivíduo separou ou destilou, ele passa para a etapa de coagulação. Isto significa concretizar as atitudes tomadas. Então, ao passarmos por todas as etapas anteriores, de calcinar, sublimar, solver, putrefar, separar, estamos finalmente em condições de coagular, portanto, a partir deste momento obtemos a ilusão de encontrar o equilíbrio, a tintura maior, que é a sétima etapa. Sobre o termo ilusão, apenas para esclarecer, temos que ter em mente que terminamos este processo, mas que outros virão e este suposto equilíbrio será novamente abalado, mas isto faz parte da dinâmica do processo de individuação.

Sétima fase: Tintura/União

Consiste na ação de tingir a obra nas cores clássicas da alquimia, concluindo o processo alquímico. Sendo que assim, o indivíduo, agora, está tingido, e desta maneira encontra-se repleto de sentimento, emoção, pensamento, ação, todos alinhados, preparando-nos para um novo processo alquímico, que certamente será disparado por uma nova crise, e como mencionado no item anterior, dando continuidade ao processo de individuação. Na tintura, nos aproximamos da percepção da essência, sentido e significado existencial.

Montanha dos Adeptos

Compreender a simbologia da Montanha dos Adeptos facilita a compreensão da analogia feita com o Processo de Individuação de Jung. Vejo como algo quase que poético a transformação dos conflitos internos do ponto de vista simbólico tal como é traduzido pela Montanha dos Adeptos. Pensar que um longo processo de transformação dos conteúdos inconscientes reprimidos é algo tão complexo e ao mesmo tempo libertador é fascinante! É doloroso, posto que queima, arde e dissolve sua dor mais profunda. Daí, o autoconhecimento, o saber, a transformação. Assim, vejo a Montanha dos Adeptos independente de outras crenças, simplesmente, uma analogia poética da minha própria transformação: 

A Montanha dos Adeptos, nesta gravura de Stephen Michelspacher (ALCHIMIA, 1654), contém os quatro elementos, Fogo, Ar, Água, Terra e todas as fases de iniciação do adepto "vendado" (ignorante), até chegar ao Templo escavado na rocha representado pelos degraus: Calcinação / Sublimação / Dissolução / Putrefacção / Distilação / Coagulação / Tintura - um dos nomes do Elixir de Vida, ou de Sabedoria, ou da Pedra Filosofal.



A Fénix, ave da transformação maravilhosa das cinzas em nova vida, múltipla e colorida com as suas penas, coroa a cúpula do Templo ornado do Sol e da Lua (o macho e fêmea, que no seu interior serão unidos).



Não é por acaso que o adepto vendado, à direita, tem do lado esquerdo um companheiro (reflexo do que ele virá a ser) perseguindo dois coelhos que correm para a toca; os coelhos são aqui figurações da fecundidade e da mutiplicação ( são dois ), a benção que a iniciação e a Pedra concedem.

O que se multiplica é o Saber; o que se fecunda é o Espírito e a Alma, que no adepto tornado clarividente, já não estão separados, estão integrados no Corpo que se sublimou e se pode redescobrir na sua totalidade física e psíquica.

Ler uma gravura alquímica é como ler um tratado. A gravura contém todos os segredos, prontos a ser descobertos pela meditação repetida e cuidadosa. Muitas imagens remetem para outras, "conversam" entre si, por isso nos dizem que é preciso ler muito, estudar com aplicação, como em qualquer outra aprendizagem. 


Neste espaço,  a Montanha dos Adeptos é apresentada como analogia ao Processo de Individuação (C.G.Jung) do sujeito em busca de sua essência. 


(Fonte: Yvette Centeno, Simbologia e Alquimia)

02/11/2015

Resenha do Filme Estamira



Resenha do Filme Estamira 

Gostei muito da resenha de Dorenice do Nascimento Souza. Buscando respeitar a autoria do trabalho dela, indico seu blog para a leitura completa se tiver interesse. Veja abaixo:





"Estamira é a protagonista de um filme documentário brasileiro dirigido pelo cineasta Marcos Prado, que retrata a vida de uma senhora de 63 anos que após vivenciar muitos sofrimentos desenvolve distúrbios mentais, e passa a sofrer de Esquizofrenia um transtorno mental psicótico severo, uma patologia que altera a personalidade total do indivíduo."

Leia mais.